terça-feira, 10 de abril de 2007

Professor Wallauschek, um gentleman

Richard Robert Wallauschek

Um gentleman. Era tão elegante que até sua costeleta lhe caía bem.
Toda vez que o via, imaginava aquele aristocrata culto, cavalheiro, educado e fino.
Acho que tocava violino.
Era o chefe do Departamento de Eletrônica do ITA. Trabalhara na Alemanha, durante a guerra, em eletrônica. Na área de ondas curtas? Radar?
Na viagem que fizemos à Argentina apreciei seu requinte culinário. Pediu um bolo de rignones, rins. Não o segui e fiquei abismado que alguém pediria rins! Rim é comestível?
Veio o prato e saboreou-o com muito gusto! Elogiou e disse que há muito não comia rim tão bem feito.
A minha cara de espanto fê-lo me perguntar se já o provara. E explicou que os europeus, devido às guerras e fome, experimentavam as várias comidas. Sugeria que o fizesse.
Anos mais tarde, fomos roubados em Marselha, eu e minha mulher. Foram se passaportes, passagens e dinheiro. No carro que alugáramos, partimos para Paris. Verão, quente e carro sem ar. Nós muito abalados.
Chegamos à cidade de Auxerre, próxima de Paris. Chegamos suados, de calça jeans, amarfanhados. O hotel que nos indicaram era estranho. Quarto com espelhos escuros no teto! Tínhamos um cartão de crédito e coisa de duzentos dólares no bolso.
A dona do hotel nos indicou um restaurante, enquanto fumava e passava roupa. Fomos e não fora a indicação, nem o notaríamos e não entraríamos.
Quando abriu a porta foi dos restaurantes mas belos e sofisticados que vira. Com nossos trajes perguntamos se podíamos entrar. Foram gentilíssimos, inclusive o cliente que nos deu boas vindas, dizendo que iríamos apreciar a comida.
E se o cartão de crédito não funcionasse? Alea jacta est. Resolvemos curtir.
Veio uma espécie de bolinhos de entrada, coisa do outro mundo, supimpa mesmo.
Helô pediu lagosta e eu um assiéte de fruits de mer e o prato do dia. Eram rins! Lembrei-me do Wallauschek e topei. Experimentar rim, que fosse ali. A lagosta veio numa bandeja, ainda viva, para que Helô a visse, antes do cozimento.
O prato de frutos do mar tão bom de olhar quanto de comer. A comida foi deliciosa e o cartão funcionou,
Anos mais tarde, no Rio, conversando com jovem francês, comentamos o episódio. Riu e disse que fôramos a um dos restaurantes preferidos de Miterrand, duas estrelas e famoso. La Salamandre, pode ser?

domingo, 8 de abril de 2007

O tempo - Conselho de Classe

Conselho de classe é uma reunião da equipe pedagógica com os professores.
É uma avaliação do que foi feito até aquele momento, o aproveitamento dos alunos e traçando novas metas.
Usa-se um artigo, um escrito, etc. como gatilhos para gerar reflexões na equipe.
Muitos são de autoria de Heloisa, Helô, minha mulher que trabalha como coordenadora pedagógica na Escola Espaço Total, em São Conrado. Gosto de seu estilo e o publico. Espero que gostem.


Conselho de Classe
4° Bimestre - 2003

A lição do tempo

O relógio marca o tempo,
tempo de rir e chorar
de dormir, de acordar
e de muito trabalhar.
Tempo de olhar a criança
que marca o nosso fazer,
nos ensinando que o tempo
ninguém pode segurar.
Mas podemos enxergar
o hoje do amanhã
e a semente cultivar
com respeito e atenção
regando com o coração
e aprendendo a lição
de que ao nosso lado está
o futuro cidadão
que nunca vai esquecer
os primeiros professores
que a ajudaram a crescer.

Educação Infantil é isso.

O começo de tudo. E terreno bem semeado só pode dar bons frutos.

Obrigada por serem "as semeadoras" do nosso Espaço, que podem olhar para a criança com respeito, dedicação e amor, acreditando que o tempo é o seu melhor aliado.

Nós

O marketeiro Tomás Ratzerdorf, El 59.

O Marketeiro Tomás Ratzerdorf, El 59.

O Edson Paladini Veiga, El 59, o Patativa, o chamava de Tecnicolor: ruivo e olhos azuis.
O lance dele que me lembro, foi quando estávamos no mesmo lab. de eletrônica em que projetamos e construímos um amplificador de válvulas. Amplificador para uma toca disco, se de 78 RPM ou 33, não me lembro. E não é que amplificou! Voz de cana rachada, mas funcionou. Dos nossos risos meio nervosos e de conquista, me recordo até hoje.
Passo a palavra para ele.

“Sou um eletrônico da era analógica, quando ainda se usavam válvulas. Nunca entendi direito o sistema binário e só fui pôr a mão num computador nos anos 80, quando surgiram os PC’s. Entrei no ITA porque já fizera um curso de Rádio e TV por correspondência e achava que essa era minha vocação. Não foi bem isso que acabou acontecendo...
Em 1959, quando me formei no ITA, o reitor era o Samuel Steinberg que arranjou para mim e para meus colegas Silvio Soares, Barros Carvalho, Ruy Brandão e Reinaldo Ramos um contrato de trabalho por 2 anos com a Bendix Avionics em Baltimore – MD, USA. Acho que fizemos parte do processo de “Brain Drain” vigente na época.
Alugamos um sobradinho todo equipado de um senhor que tinha ficado viúvo e compramos um Chevrolet coupé 1948 por 125 dólares. Como eu era um dos poucos que tinha carro e carta de motorista no tempo do ITA, coube a mim a tarefa de dirigir o carro todos os dias para a fábrica e servir de instrutor de auto-escola para os demais.
Fui trabalhar no projeto de um transponder de radar para aviação civil e lembro que o gerador de pulsos eram 4 válvulas duplo-triodo, os conhecidos “flip-flops”. O Silvio e o Ruy também trabalharam em aviônica enquanto o Barros e o Reinaldo na divisão que fabricava rádios para automóveis da Chrysler e equipamento de comunicação para trens.
O Ruy foi um dos pioneiros no uso de computadores para projeto de circuitos eletrônicos, mas isto deixo para ele relatar.
Depois de quase um ano de projeto e ensaios em bancada, veio a ordem para abandonar tudo e começar do zero com a novidade da época: transistores (de Germânio!). Mais alguns meses de projeto e ensaios e estes tiveram que ser substituídos por transistores de Silício, que agüentavam melhor as altas temperaturas a que são submetidos os equipamentos instalados a bordo de aeronaves. Um ano mais tarde, já se começava a pensar em Circuitos Integrados, aproveitando a tecnologia desenvolvida para os transistores de Silício, o que trouxe novos atrasos para o lançamento do transponder.
Após um ano de trabalho, passamos de Junior Engineers (que tinham crachá rosa e tinham que bater ponto) para Assistant Project Engineers, com crachá azul e livres do ponto!
Ao final dos 2 anos de contrato, todos fomos convidados a continuar na Bendix. O Silvio e o Ruy ficaram por lá, enquanto eu, o Barros e o Reinaldo voltamos para o Brasil e cada um seguiu seu destino.
O meu destino foi ir trabalhar na Ibrape (hoje Philips Components) num cargo ainda desconhecido no Brasil: Engenheiro Consultor. Na verdade tratava-se de Engenheiro de Vendas, mas a palavra Vendas não soava muito bem na época. Meu trabalho era convencer os departamentos de engenharia das cerca de 30 fábricas de Radio e TV das vantagens dos componentes fabricados pela Ibrape (válvulas, transistores, capacitores, cinescópios, etc.). Para isso, me valia dos conhecimentos adquiridos no ITA e de uma generosa distribuição de amostras grátis, bem ao estilo dos propagandistas de medicamentos até hoje.
E assim começou minha carreira de marketeiro, que culminaria como Gerente de Marketing até 1978.
Foram 17 anos na Ibrape, promovendo a venda de componentes que custavam menos de 1 dólar. Em 1980 dei um salto no escuro: fui trabalhar na Divisão de Planejamento de Marketing da Embraer, para promover a venda de produtos que custavam mais de 1 milhão de dólares cada um! Tive que deixar de lado a Eletrônica e aprender rápido o que é Peso Máximo de Decolagem, Alcance, Velocidade de Cruzeiro, etc. para produzir os folhetos e anúncios dos aviões. Foram mais 11 anos de marketing, dos quais guardo as melhores lembranças devido aos companheiros que conheci e ao pioneirismo da Embraer, que me surpreendia a cada dia.”

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Coisas do ITA – Leis e brinde

01 04 07

Leis
Engenheiro, ou futuro engenheiro, tem mania de fazer coisas sistemáticas. Lembro-me das leis do Universo (modestos, não!).
V=RI (voltagem = resistência X amperagem) explicava a eletricidade e Força=massa X aceleração explicava a mecânica. Pronto, o mundo físico estava explicado.
Não se deve empurrar o barbante. (Lei do Bom Senso)
O último pingo é da calça. (Lei da Fatalidade)
A mulher te gosta na razão direta da porrada e inverso da paparicação. (Lei do Nelson Rodrigues ou do machão insensível?)

Brinde
Que nossos filhos tenham mamães lindas, pais ricos e que pelo menos um seja nosso. (Lei de alguma coisa).

domingo, 1 de abril de 2007

Vivências correções e sugestões 01 04 07

O /360 - 40 do Bureau de Serviços no Rio tinha 64K e não 128K.
Se não me engano os /360 tinham como sistema operacional DOS e os OS (MFT e MVT). Estes últimos viraram MVS creio que na era /370.

Minha vaga lembrança foi devidamente corrigida. Difícil imaginar um equipamento, hoje, quando escrevo, apenas com 128K!

Caro Fernando,
Que bom que você decidiu criar um blog! Você vai ver que será um grande sucesso de público e de crítica...
Começando pelas críticas queria fazer duas sugestões:
DESOBSTRUA O ACESSO AOS COMENTÁRIOS
Da forma como está especificado, somente pessoas que tem uma conta de e-mail no Gmail, poderão fazer comentários no seu blog. Dessa forma, quem não tem, não pode fazer comentários. Isso é uma restrição séria...
Caso você tenha preocupação com a qualidade dos comentários você tem uma opção de “moderá-los”, ou seja, você pode vê-los e aprová-los antes que apareçam no blog. É uma solução melhor do que a que está em vigor.

Pretendo fazê-lo.

OS POSTS DO BLOG ESTÃO QUILOMÉTRICOS
Um dos segredos de um blog bem sucedido é usar “posts” curtos, sempre que possível, e nomear cada post com títulos instigantes. Os seus estão muito longos (quebre-os em 4 ou 5 posts). Chamar todos os posts de “Vivências, mudanças e curiosidades” 1, 2, 3, etc. é meio enfadonho, não é? Vivências deve ser o nome do blog mas o nome de TODOS os posts...

Tenho dito!

Disse-o bem. Já começo a rever.

Um abraço forte,
Waldecy


Coloco a crítica e sugestão em itálico. As minhas observações, sem itálico.

domingo, 25 de março de 2007

Vivências #6

Vivências, mudanças e curiosidades
6 03 25 2007

Contribuições
Nenhuma e estou precisando. Os que estão na escuta, entrem!

Vivências e
No livro, “Feitas para durar”, excelente, há um capítulo em que fala do investimento que a IBM fez para desenvolver e lançar o /360. A observação que fazem é que se o /360 não fosse bem sucedido, a IBM poderia ter falido.
Não tão fora de propósito assim pois, quando o Comet, primeiro jato comercial, começa a cair a De Havilland deixa de ser uma força na fabricação de aviões comerciais. Não sei se faliu. Investimento muito grande e fracasso colossal.
Tínhamos racionamento de energia no Rio. Duas horas pela manhã e duas à noite. Tivemos e lembro-me da corrida para chegar quando os elevadores estavam funcionando.
Computador não gostava de eletricidade instável. Surgiram os grupos motores geradores. Lá estavam de prontidão para entrar no ar com a queda ou piscada da luz. E tome barulho e investimento.
Alguns com baterias gigantes para fornecer a energia por um curto tempo para que o motor entrasse em ação. Alguns com um enorme e pesado volante para manter a rotação quando caía a luz. Ou uma combinação dos dois.
Como o problema era geral em várias partes do mundo, eis aí uma oportunidade para a IBM: desenvolver um sistema estático para ter o fornecimento de energia com as precisões requeridas na freqüência e voltagem. Não substituía a Light, apenas retificava e fornecia na voltagem e freqüência adequadas. O curioso é que a freqüência era algo deveras importante. Por dia, o número de ciclos certos era importante! Mistérios.
Fui designado para acompanhar o projeto, pela DT.Fábrica em Kingston, Nova York. Lá fiquei coisa de 5 meses.O projeto foi abortado. O fornecimento de energia tinha melhorado em toda parte e o projeto não seria rentável.
Mas vi em osciloscópio o quanto um computador sugava de amperagem na partida. Era um pico de corrente, coisa de mais de cem vezes o habitual. Tinham osciloscópios com memória e podíamos ver o pico e medir a corrente. O pico durava poucos ciclos, caía rápido e não havia fusível que queimasse na velocidade necessária ou não estourasse. Lembro-me que cada fusível apropriado custava coisa de $50.
A IBM crescia e a brasileira, idem. Notei que as decisões não eram na DT. Marketing era quem mandava, quem apontava os rumos. A DT era o apoio, uma necessidade mas na retaguarda. Comecei a pensar em sair da DT. Tive sorte, encontrei o Leão Sessak e como meu padrinho, me levou para marketing.
Transistores, osciloscópios, diagnósticos ficariam para o passado. Agora era conhecer os produtos e vender, cumprir cotas.
Em 1967 passei para a Divisão de Marketing e de lá não mais sairia enquanto na IBM.

Curiosidades
O Luiz Peregrino, da minha turma, veio do interior de São Paulo. Bauru?
Tinha o r arrastado. Baixo, meio alourado, nariz empinado, contestador total. Discutia com todos. Até com o terror, o Professor Dr. Luiz Valente BOFFI, que chegara do MIT. Era bom vê-lo argumentando. É o mesmo até hoje quando falo com ele no skype.
Estamos no ano de 1958, copa do mundo. E um garoto, chamado Pelé, aparece. Será que Feola vai escalá-lo no lugar do Mazola (ou outro nome?)? Bate papo com opiniões diversas. Bostejos mil. Televisão não havia, era radinho.
Aparece uma revista com o Pelé na capa. O Peregrino olha e pergunta que neguinho é esse? Caímos de pau em cima dele. É o Pelé! A grande revelação! Não lê jornal? E por aí vai.
Impassível pergunta: ele sabe matemática? Não. Conhece eletrônica?. Não. Então não me interessa.
Anos depois nos Estados Unidos, na Califórnia, encontro-me com ele. Já estava na HP há muito. Conversa comigo e me revela que entendera as equações de Maxwell. Aterrorizei-me, alguém entendia as equações do escocês! Meu complexo de inferioridade quase salta, tal o puxão que levara. E me explica:- Veja um lago calmo, água imóvel. Deixe cair uma pedra e as ondas se formam. Propagam-se como Maxwell previra. Custei muito a perceber.
Meu complexo virou definitivo!
Estou no Rio, vindo da cidade, dirigindo e dando carona ao Murta, também da minha turma. O rádio emudece quando passamos em um túnel. E o Murta me informa que agora sabia por que, em certos túneis, o rádio não pegava e em outros pegava. Era por causa dos fios elétricos dos bondes.que passavam em alguns túneis. (Naquela época, anos 60, ainda tínhamos bondes elétricos.).- O Maxwell explica. Lembra-se das equações dele?
Outro a me revolver meus complexos. Oh escocesinho de bosta, persegues-me!
Um dos professores comenta conosco que fora pego na Dutra em excesso de velocidade. Parado o guarda pede os documentos e nota que tem um documento com símbolo do ITA.- O senhor é do ITA?- Sou?- Conhece o Professor Pompéia? (Paulus Aulus Pompéia, Chefe do Departamento de Física) - Conheço sim. Por quê?- O senhor pode ir e dê-lhe lembranças de ....(nome do guarda). É que o pegamos correndo com excesso de velocidade e ele ficou nos explicando que não havia suficiente precisão para multá-lo. Passou quase meia hora nos explicando o que era número significativo. Como o senhor deve saber também... Por esta vez passa, mas maneire.
O Chen To Tai veio do MIT com fama de ser das pessoas que mais conhecia antenas, propagação etc.. O que me ensinaria as equações do escocês, o James C Maxwell, acho.
Figura pequena, tez escura e muito agradável.
A minha turma fez sua viagem à Argentina, voando em um DC 3 da FAB, bimotor convencional. Jato, então, nem pensar.
Quando estamos embarcando em São José, o sargento vê o Jean Paul entrar e comenta:
- Este vai dar problema para o comandante.
Os seus 125 kg fariam diferença quando andasse no avião.
E lá fomos nós. Quando começamos a voar sobre a planície do sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, céu azul, nuvens de carneirinho, e o avião pulava, não muito, mas constante, Estava sobe e desce, estômago sentia. A sensação era desagradável. O Rui ficou pálido, enjoara, não sei se vomitara. Para convencê-lo a seguir viagem, quando pousamos em Porto Alegre foi duro. Não sei se foi empurrado para dentro, mas seguimos com ele a bordo. A viagem foi mais tranqüila, com menos brincadeira aeronáutica de ioiô.
Em Buenos Aires, uma noite, saí para jantar junto com o Chen To Tai e patota. Fomos a um restaurante chinês que descobrira e que conhecia o dono. Restaurante chinês era tremenda novidade. Chegou bateu papo com o dono em chinês e disse se podia pedir para nós também. Explicou que pediria a comida que comia como estudante. Topei e não me arrependo.
Pediu uma seqüência de legumes e chop suey. Depois algo com frango. O curioso é que comia os legumes, não me lembro quais e o chop suey, sem misturá-los, ora um, ora outro. Com pauzinho, é claro, e em tigelas.
Não misturava para sentir o sabor de cada comida. Curioso.
Quando a rádio do ITA, precisou de uma antena, bipolar, creio, pediram ao Chen to Tai para projetá-la. Feito o projeto levaram para fazer e o técnico da aeronáutica comentou: Precisa de coisa de vinte centímetros mias comprida. E não é que tinha razão! O escocês sifu, ainda bem!

Vivências #5

Vivências, mudanças e curiosidades
5 03 16 2007

Contribuições
“Tenho uma:Tinha uma bicicleta daquelas de aro muito pequeno…Sentia todos os buracos e elevações do percurso.E levava meus programas que eram em fichas (cartões) perfuradas atrás, no “bagageiro”. Presas com elástico.Um dia, puf, caíram todas.Acho que foi a primeira vez que o meu computador deu pau... De um jeito engraçado.Tive que reordenar todas as fichas, graças a Deus elas eram numeradas.Daí pra frente é um sofrimento constante com computador que deu pau.E continua dando.
Edmour Saiani ITA 75”

Vivências
A troca de equipamentos não era trivial. Já eram meio indispensáveis e não tê-los operacionais, um grande transtorno para a gestão e operação das empresas. As mudanças eram planejadas e habitualmente feitas em fins de semana ou feriados.
Saía um equipamento e entrava o outro no fim de semana. Quando a instalação era no mesmo local era mais problemática.
Imagine o peso das máquinas, os cabos sendo estendidos no piso falso, a retirada e colocação das máquinas, ligar, instalar, passar os testes e entregar ao cliente para que pudesse operar.
Na DT, tinha a moçada especializada em instalação. Trabalhavam e apoiavam antes da instalação, cuidando das diversas etapas: ar condicionado, piso falso, local, suprimento de força e transporte e por aí vai. Funcionava. Como dizia o personagem de Shakespeare, há mistérios.
Anos depois, quando em marketing, fui Gerente da Filial Rio Serviços e tive como cliente o Banco Chase Manhattan. Existia o Chase!
Lidava com o Vice Presidente. Americano, bastante viajado, foi a primeira pessoa que no almoço tinha uma agenda escrita e a seguia. Banqueiro se trata bem. Gostava do que comia, achava graça na agenda.
Falávamos sobre os diversos problemas e o que estava bom e as críticas que tinha. Marcou-me o dia em que na agenda estava “Instalação do novo equipamento” e seu comentário foi: Não sei bem porque, mas no Brasil não é um problema segundo me avisaram. Tive muitos problemas no mundo todo, aqui disseram para não me preocupar. Está tudo planejado? Respondi que sim.
Houve a instalação em fim de semana e na segunda me ligou felicitando pelo sucesso da instalação, no prazo e tudo operando na segunda pela manhã. Estivera no prédio, achou tudo meio louco. Mas era fato, funcionava. Considerou um mistério.
A IBM lançou o Sistema /360. Teve muito de inovação. Era uma família de equipamentos de diversos portes que tinham compatibilidade na programação. E no sistema operacional!
Crescer na família /360, preservando os programas. Tremenda revolução e inovação. Tinha um cabo de interface padrão, coisa como a entrada USB de hoje. Todo equipamento de entrada e saída se ligava por um mesmo tipo de cabo e encaixe.
Os sistemas vinham com um sistema operacional, o DOS ou o MVS. Aquele para as máquinas menores, menos potentes e com menor memória. O MVS para as grandonas.
O JCL era o diabo da época: Job Control Language. Alguns ficaram famosos pelo que entendiam do JCL, outros naufragaram. Analistas que se firmaram ou se danaram. Analistas de suporte no sistema operacional, analistas de aplicação. Novas especializações.
E começa o império dos discos e a decadência das fitas magnéticas. O seqüencial cedia lugar ao acesso aleatório! Estranho não, memória em disco ser a base de tudo. Como é hoje.
Aparecem os primeiros chips, com poucos componentes, mas começam. Ainda muitas placas onde eram fixados os chips. Nós chamávamos as placas de cartões.
Havia então, em cada computador, dois tipos de memória: a de uso dos programadores, ainda em ferrite e indo até 256K! O IBM /360 modelo 40 do CSD – Centro de Serviços de Dados – o Bureau era o quarentão, com 128k e rodava até 3 programas em partições diferentes. Oh, que espanto.
E havia as memórias read only, só de leitura, que era o computador em si. O CMGF, iniciais de excelente técnico da DT, comentou comigo que as memórias read only eram diferentes para cada modelo. Eram elas que tinham as instruções do computador.
A do /360 modelo 40 eram em fitas de plástico com posições marcadas: posição furada era bit 1, não furada bit 0! Lembram-se daqueles pianos antigos que tinham programação em fitas furadas e que tocavam sozinhos? Pianola? Pois eram assim os computadores. (Obviamente, há certa gozação nesta forma de explicar!) Era memória de capacitância, bem mais em conta.
Nestas memórias ROM, estão também muitos circuitos de teste. Quando o equipamento era ligado era testado por seu próprio circuito, coisa de 128 vezes. Mania de binário.
Presenciara várias mudanças. Máquinas diversas com programação própria para uma família que preservava os custos de programação. O advento dos discos e os sistemas operacionais. Eletro mecânico e válvulas passando para transistores discretos e chips. Vários tipos de memória: cartões perfurados, núcleos de ferrite, capacitância, transistores, fitas magnéticas e discos magnéticos removíveis. Vira aparecer o analista de sistema do sistema operacional, o analista de sistema de aplicações. O especialista da DT em instalação e em seguida o especialista da DT em sistema operacional. Uma interface padrão para ligar os vários periféricos.
Evolução e revolução rápidas.
E software começa o seu reinado. Hardware é importante, mas software é o bicho. Mais tarde Bill Gates entendeu a coisa e lá se foi para enricar e dominar.
Custo de programação passa a ser peça importante e passa a ser fundamental na capacidade competitiva das empresas.
Como disse um executivo: No futuro doarei o hardware para vender o software. Exagerado sim, mas mostra a tendência.

Curiosidades
Estou falando do ITA de 1955 a 1959. O Brasil e o ITA são muito diversos.
Automóveis são caros e ainda raros.O Leon tinha um Javelin. O Colibri um Sunbeam Talbot. O Miltão trazia, de vez em quando, uma Mercedes à Diesel de seu pai. Baterias enormes de XXXXX para aquecer o cabeçote (?) e só então injetar o diesel. Partida estranha!
O Adolfo, 58, tinha um Chevrolet BelAir, luxo só. O Verdi, 58, uma moto BMW. Muitos de automóveis de pedalinho, eu inclusive, ciclistas.
O Jean Paul comprovava a robustez da Vespa. Resistiu com galhardia à robustez do dono.
Apelidos, uns pegam, outros não. Havia o Fio de Linha, Filamento, Mutum, Xexéu, Costeleta, Gafanhoto, Goioba (cocô da goiaba), o Corú (diminutivo de Corutixa = coruja + lagartixa), o Miné (curto para Minestrone), o Sucata, o Fuligem, Chiquita Bacana, Sururu, Gafanhoto, Macarra, Aracati, Patativa (sotaque cantado de sulista) e por aí vai.
Vejam no anexo um disco rígido de 5MB de 1956.... Em Setembro de 1956 a IBM lançou o 305 RAMAC, o primeiro Computador com Hard Disk (HDD). O HDD pesava perto de 1 tonelada e tinha a capacidade de 5mb... É isso mesmo: cinco mega de memória! Apreciem o seu pen drive de 2 G. (Contribuição do BARM, colega do Marketing da IBM. Gozador, pergunta se sou eu quem está ajudando na descarga! Não sou eu.)

Baboseiras: cenas reais da vida
Cena 1
Saio de casa, coisa de 8h: 30 para andar na praia.Estou sem óculos.Ao longe vejo vulto esbelto, todo preto, caminhando no calçadão.
Primeiro imagino um poste caminhando. Depois um urubu muito alto e esbelto.
Continuo caminhando, aproximo-me do calçadão e agora posso ver a fisionomia do poste. Fisionomia muito bela: é a Luiza Brunet!Até hoje a mulher mais bonita que conheci. Ainda hoje muito bela sem o deslumbramento de anos atrás.Aprecio-a passar em seu passo rápido e ritmado, elegantíssima, de roupa toda preta, boné idem e óculos escuros.
Algo errado na personalidade de quem confunde a Brunet com poste e urubu!

Cena 2

Saio de casa para fazer a ginástica de alongamento. Eu e as meninas. Sou o único homem e a média de nossas idades deve ser de 70 anos.
Fazemos alongamento em pé na primeira meia hora e deitados, na canga, na outra.
De repente, surgem quatro pássaros, tamanho de galo garnisé, pernaltos e penas de cor cinza e branco. Bicos grandes e finos.Ficam alinhados, paralelos ao mar, apreciando-o.
De repente, grasnam, gritam, piam. Fazem um tremendo alarido. Muito maior que o tamanho preveria.Silêncio e de repente a zorra sonora de novo.
Somem.
Deitamo-nos. Vejo duas aves no parapeito de cobertura da Delfim Moreira.Aproximam-se, afastam-se. A asa levanta e encobre parte do outro. Roça o bico no outro e vice versa. Enlevados, namorando. Um idílio amoroso, ao ar livre, na brisa da praia, sem medo da altura ou de cair.
Quando volto a olhar, já se foram.
Urubus também amam.

Cena 3
Saio de casa, dia 12 de março, coisa de 8h: 30 para andar na praia. Estou sem óculos.
Caminho pelo calçadão. Um vulto se aproxima, emparelha comigo e passa. É a Luiza Brunet! De novo. Com roupa de cor escura, não preta.
O porte é deslumbrante. O passo é ritmado e rápido. Não tenho pico para acompanhá-la.
Aprecio o andar, o encantador balanço das ondas de seu quadril sustentado por duas pernas lindíssimas. E vai-se, vai-se.Quase acredito que Deus existe e quase mando às favas meu ateísmo.
Bom começar o dia assim.