domingo, 8 de abril de 2007

O marketeiro Tomás Ratzerdorf, El 59.

O Marketeiro Tomás Ratzerdorf, El 59.

O Edson Paladini Veiga, El 59, o Patativa, o chamava de Tecnicolor: ruivo e olhos azuis.
O lance dele que me lembro, foi quando estávamos no mesmo lab. de eletrônica em que projetamos e construímos um amplificador de válvulas. Amplificador para uma toca disco, se de 78 RPM ou 33, não me lembro. E não é que amplificou! Voz de cana rachada, mas funcionou. Dos nossos risos meio nervosos e de conquista, me recordo até hoje.
Passo a palavra para ele.

“Sou um eletrônico da era analógica, quando ainda se usavam válvulas. Nunca entendi direito o sistema binário e só fui pôr a mão num computador nos anos 80, quando surgiram os PC’s. Entrei no ITA porque já fizera um curso de Rádio e TV por correspondência e achava que essa era minha vocação. Não foi bem isso que acabou acontecendo...
Em 1959, quando me formei no ITA, o reitor era o Samuel Steinberg que arranjou para mim e para meus colegas Silvio Soares, Barros Carvalho, Ruy Brandão e Reinaldo Ramos um contrato de trabalho por 2 anos com a Bendix Avionics em Baltimore – MD, USA. Acho que fizemos parte do processo de “Brain Drain” vigente na época.
Alugamos um sobradinho todo equipado de um senhor que tinha ficado viúvo e compramos um Chevrolet coupé 1948 por 125 dólares. Como eu era um dos poucos que tinha carro e carta de motorista no tempo do ITA, coube a mim a tarefa de dirigir o carro todos os dias para a fábrica e servir de instrutor de auto-escola para os demais.
Fui trabalhar no projeto de um transponder de radar para aviação civil e lembro que o gerador de pulsos eram 4 válvulas duplo-triodo, os conhecidos “flip-flops”. O Silvio e o Ruy também trabalharam em aviônica enquanto o Barros e o Reinaldo na divisão que fabricava rádios para automóveis da Chrysler e equipamento de comunicação para trens.
O Ruy foi um dos pioneiros no uso de computadores para projeto de circuitos eletrônicos, mas isto deixo para ele relatar.
Depois de quase um ano de projeto e ensaios em bancada, veio a ordem para abandonar tudo e começar do zero com a novidade da época: transistores (de Germânio!). Mais alguns meses de projeto e ensaios e estes tiveram que ser substituídos por transistores de Silício, que agüentavam melhor as altas temperaturas a que são submetidos os equipamentos instalados a bordo de aeronaves. Um ano mais tarde, já se começava a pensar em Circuitos Integrados, aproveitando a tecnologia desenvolvida para os transistores de Silício, o que trouxe novos atrasos para o lançamento do transponder.
Após um ano de trabalho, passamos de Junior Engineers (que tinham crachá rosa e tinham que bater ponto) para Assistant Project Engineers, com crachá azul e livres do ponto!
Ao final dos 2 anos de contrato, todos fomos convidados a continuar na Bendix. O Silvio e o Ruy ficaram por lá, enquanto eu, o Barros e o Reinaldo voltamos para o Brasil e cada um seguiu seu destino.
O meu destino foi ir trabalhar na Ibrape (hoje Philips Components) num cargo ainda desconhecido no Brasil: Engenheiro Consultor. Na verdade tratava-se de Engenheiro de Vendas, mas a palavra Vendas não soava muito bem na época. Meu trabalho era convencer os departamentos de engenharia das cerca de 30 fábricas de Radio e TV das vantagens dos componentes fabricados pela Ibrape (válvulas, transistores, capacitores, cinescópios, etc.). Para isso, me valia dos conhecimentos adquiridos no ITA e de uma generosa distribuição de amostras grátis, bem ao estilo dos propagandistas de medicamentos até hoje.
E assim começou minha carreira de marketeiro, que culminaria como Gerente de Marketing até 1978.
Foram 17 anos na Ibrape, promovendo a venda de componentes que custavam menos de 1 dólar. Em 1980 dei um salto no escuro: fui trabalhar na Divisão de Planejamento de Marketing da Embraer, para promover a venda de produtos que custavam mais de 1 milhão de dólares cada um! Tive que deixar de lado a Eletrônica e aprender rápido o que é Peso Máximo de Decolagem, Alcance, Velocidade de Cruzeiro, etc. para produzir os folhetos e anúncios dos aviões. Foram mais 11 anos de marketing, dos quais guardo as melhores lembranças devido aos companheiros que conheci e ao pioneirismo da Embraer, que me surpreendia a cada dia.”

Um comentário:

Carlos Teixeira (T74) disse...

Taí... Esta é uma boa maneira de ir conhecendo aqueles iteanos com quem não tivemos o prazer de conviver naqueles 5 anos de ITA. O Tomás eu só conhecia de trocar alguns e-mails. Se bem que eu já estava suspeitando desta vertente marqueteira, no bom sentido, é claro, no tratamento dado ao SUPLEMENTO e à transparência nas finanças da AEITA.