domingo, 25 de março de 2007

Vivências #6

Vivências, mudanças e curiosidades
6 03 25 2007

Contribuições
Nenhuma e estou precisando. Os que estão na escuta, entrem!

Vivências e
No livro, “Feitas para durar”, excelente, há um capítulo em que fala do investimento que a IBM fez para desenvolver e lançar o /360. A observação que fazem é que se o /360 não fosse bem sucedido, a IBM poderia ter falido.
Não tão fora de propósito assim pois, quando o Comet, primeiro jato comercial, começa a cair a De Havilland deixa de ser uma força na fabricação de aviões comerciais. Não sei se faliu. Investimento muito grande e fracasso colossal.
Tínhamos racionamento de energia no Rio. Duas horas pela manhã e duas à noite. Tivemos e lembro-me da corrida para chegar quando os elevadores estavam funcionando.
Computador não gostava de eletricidade instável. Surgiram os grupos motores geradores. Lá estavam de prontidão para entrar no ar com a queda ou piscada da luz. E tome barulho e investimento.
Alguns com baterias gigantes para fornecer a energia por um curto tempo para que o motor entrasse em ação. Alguns com um enorme e pesado volante para manter a rotação quando caía a luz. Ou uma combinação dos dois.
Como o problema era geral em várias partes do mundo, eis aí uma oportunidade para a IBM: desenvolver um sistema estático para ter o fornecimento de energia com as precisões requeridas na freqüência e voltagem. Não substituía a Light, apenas retificava e fornecia na voltagem e freqüência adequadas. O curioso é que a freqüência era algo deveras importante. Por dia, o número de ciclos certos era importante! Mistérios.
Fui designado para acompanhar o projeto, pela DT.Fábrica em Kingston, Nova York. Lá fiquei coisa de 5 meses.O projeto foi abortado. O fornecimento de energia tinha melhorado em toda parte e o projeto não seria rentável.
Mas vi em osciloscópio o quanto um computador sugava de amperagem na partida. Era um pico de corrente, coisa de mais de cem vezes o habitual. Tinham osciloscópios com memória e podíamos ver o pico e medir a corrente. O pico durava poucos ciclos, caía rápido e não havia fusível que queimasse na velocidade necessária ou não estourasse. Lembro-me que cada fusível apropriado custava coisa de $50.
A IBM crescia e a brasileira, idem. Notei que as decisões não eram na DT. Marketing era quem mandava, quem apontava os rumos. A DT era o apoio, uma necessidade mas na retaguarda. Comecei a pensar em sair da DT. Tive sorte, encontrei o Leão Sessak e como meu padrinho, me levou para marketing.
Transistores, osciloscópios, diagnósticos ficariam para o passado. Agora era conhecer os produtos e vender, cumprir cotas.
Em 1967 passei para a Divisão de Marketing e de lá não mais sairia enquanto na IBM.

Curiosidades
O Luiz Peregrino, da minha turma, veio do interior de São Paulo. Bauru?
Tinha o r arrastado. Baixo, meio alourado, nariz empinado, contestador total. Discutia com todos. Até com o terror, o Professor Dr. Luiz Valente BOFFI, que chegara do MIT. Era bom vê-lo argumentando. É o mesmo até hoje quando falo com ele no skype.
Estamos no ano de 1958, copa do mundo. E um garoto, chamado Pelé, aparece. Será que Feola vai escalá-lo no lugar do Mazola (ou outro nome?)? Bate papo com opiniões diversas. Bostejos mil. Televisão não havia, era radinho.
Aparece uma revista com o Pelé na capa. O Peregrino olha e pergunta que neguinho é esse? Caímos de pau em cima dele. É o Pelé! A grande revelação! Não lê jornal? E por aí vai.
Impassível pergunta: ele sabe matemática? Não. Conhece eletrônica?. Não. Então não me interessa.
Anos depois nos Estados Unidos, na Califórnia, encontro-me com ele. Já estava na HP há muito. Conversa comigo e me revela que entendera as equações de Maxwell. Aterrorizei-me, alguém entendia as equações do escocês! Meu complexo de inferioridade quase salta, tal o puxão que levara. E me explica:- Veja um lago calmo, água imóvel. Deixe cair uma pedra e as ondas se formam. Propagam-se como Maxwell previra. Custei muito a perceber.
Meu complexo virou definitivo!
Estou no Rio, vindo da cidade, dirigindo e dando carona ao Murta, também da minha turma. O rádio emudece quando passamos em um túnel. E o Murta me informa que agora sabia por que, em certos túneis, o rádio não pegava e em outros pegava. Era por causa dos fios elétricos dos bondes.que passavam em alguns túneis. (Naquela época, anos 60, ainda tínhamos bondes elétricos.).- O Maxwell explica. Lembra-se das equações dele?
Outro a me revolver meus complexos. Oh escocesinho de bosta, persegues-me!
Um dos professores comenta conosco que fora pego na Dutra em excesso de velocidade. Parado o guarda pede os documentos e nota que tem um documento com símbolo do ITA.- O senhor é do ITA?- Sou?- Conhece o Professor Pompéia? (Paulus Aulus Pompéia, Chefe do Departamento de Física) - Conheço sim. Por quê?- O senhor pode ir e dê-lhe lembranças de ....(nome do guarda). É que o pegamos correndo com excesso de velocidade e ele ficou nos explicando que não havia suficiente precisão para multá-lo. Passou quase meia hora nos explicando o que era número significativo. Como o senhor deve saber também... Por esta vez passa, mas maneire.
O Chen To Tai veio do MIT com fama de ser das pessoas que mais conhecia antenas, propagação etc.. O que me ensinaria as equações do escocês, o James C Maxwell, acho.
Figura pequena, tez escura e muito agradável.
A minha turma fez sua viagem à Argentina, voando em um DC 3 da FAB, bimotor convencional. Jato, então, nem pensar.
Quando estamos embarcando em São José, o sargento vê o Jean Paul entrar e comenta:
- Este vai dar problema para o comandante.
Os seus 125 kg fariam diferença quando andasse no avião.
E lá fomos nós. Quando começamos a voar sobre a planície do sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, céu azul, nuvens de carneirinho, e o avião pulava, não muito, mas constante, Estava sobe e desce, estômago sentia. A sensação era desagradável. O Rui ficou pálido, enjoara, não sei se vomitara. Para convencê-lo a seguir viagem, quando pousamos em Porto Alegre foi duro. Não sei se foi empurrado para dentro, mas seguimos com ele a bordo. A viagem foi mais tranqüila, com menos brincadeira aeronáutica de ioiô.
Em Buenos Aires, uma noite, saí para jantar junto com o Chen To Tai e patota. Fomos a um restaurante chinês que descobrira e que conhecia o dono. Restaurante chinês era tremenda novidade. Chegou bateu papo com o dono em chinês e disse se podia pedir para nós também. Explicou que pediria a comida que comia como estudante. Topei e não me arrependo.
Pediu uma seqüência de legumes e chop suey. Depois algo com frango. O curioso é que comia os legumes, não me lembro quais e o chop suey, sem misturá-los, ora um, ora outro. Com pauzinho, é claro, e em tigelas.
Não misturava para sentir o sabor de cada comida. Curioso.
Quando a rádio do ITA, precisou de uma antena, bipolar, creio, pediram ao Chen to Tai para projetá-la. Feito o projeto levaram para fazer e o técnico da aeronáutica comentou: Precisa de coisa de vinte centímetros mias comprida. E não é que tinha razão! O escocês sifu, ainda bem!

Vivências #5

Vivências, mudanças e curiosidades
5 03 16 2007

Contribuições
“Tenho uma:Tinha uma bicicleta daquelas de aro muito pequeno…Sentia todos os buracos e elevações do percurso.E levava meus programas que eram em fichas (cartões) perfuradas atrás, no “bagageiro”. Presas com elástico.Um dia, puf, caíram todas.Acho que foi a primeira vez que o meu computador deu pau... De um jeito engraçado.Tive que reordenar todas as fichas, graças a Deus elas eram numeradas.Daí pra frente é um sofrimento constante com computador que deu pau.E continua dando.
Edmour Saiani ITA 75”

Vivências
A troca de equipamentos não era trivial. Já eram meio indispensáveis e não tê-los operacionais, um grande transtorno para a gestão e operação das empresas. As mudanças eram planejadas e habitualmente feitas em fins de semana ou feriados.
Saía um equipamento e entrava o outro no fim de semana. Quando a instalação era no mesmo local era mais problemática.
Imagine o peso das máquinas, os cabos sendo estendidos no piso falso, a retirada e colocação das máquinas, ligar, instalar, passar os testes e entregar ao cliente para que pudesse operar.
Na DT, tinha a moçada especializada em instalação. Trabalhavam e apoiavam antes da instalação, cuidando das diversas etapas: ar condicionado, piso falso, local, suprimento de força e transporte e por aí vai. Funcionava. Como dizia o personagem de Shakespeare, há mistérios.
Anos depois, quando em marketing, fui Gerente da Filial Rio Serviços e tive como cliente o Banco Chase Manhattan. Existia o Chase!
Lidava com o Vice Presidente. Americano, bastante viajado, foi a primeira pessoa que no almoço tinha uma agenda escrita e a seguia. Banqueiro se trata bem. Gostava do que comia, achava graça na agenda.
Falávamos sobre os diversos problemas e o que estava bom e as críticas que tinha. Marcou-me o dia em que na agenda estava “Instalação do novo equipamento” e seu comentário foi: Não sei bem porque, mas no Brasil não é um problema segundo me avisaram. Tive muitos problemas no mundo todo, aqui disseram para não me preocupar. Está tudo planejado? Respondi que sim.
Houve a instalação em fim de semana e na segunda me ligou felicitando pelo sucesso da instalação, no prazo e tudo operando na segunda pela manhã. Estivera no prédio, achou tudo meio louco. Mas era fato, funcionava. Considerou um mistério.
A IBM lançou o Sistema /360. Teve muito de inovação. Era uma família de equipamentos de diversos portes que tinham compatibilidade na programação. E no sistema operacional!
Crescer na família /360, preservando os programas. Tremenda revolução e inovação. Tinha um cabo de interface padrão, coisa como a entrada USB de hoje. Todo equipamento de entrada e saída se ligava por um mesmo tipo de cabo e encaixe.
Os sistemas vinham com um sistema operacional, o DOS ou o MVS. Aquele para as máquinas menores, menos potentes e com menor memória. O MVS para as grandonas.
O JCL era o diabo da época: Job Control Language. Alguns ficaram famosos pelo que entendiam do JCL, outros naufragaram. Analistas que se firmaram ou se danaram. Analistas de suporte no sistema operacional, analistas de aplicação. Novas especializações.
E começa o império dos discos e a decadência das fitas magnéticas. O seqüencial cedia lugar ao acesso aleatório! Estranho não, memória em disco ser a base de tudo. Como é hoje.
Aparecem os primeiros chips, com poucos componentes, mas começam. Ainda muitas placas onde eram fixados os chips. Nós chamávamos as placas de cartões.
Havia então, em cada computador, dois tipos de memória: a de uso dos programadores, ainda em ferrite e indo até 256K! O IBM /360 modelo 40 do CSD – Centro de Serviços de Dados – o Bureau era o quarentão, com 128k e rodava até 3 programas em partições diferentes. Oh, que espanto.
E havia as memórias read only, só de leitura, que era o computador em si. O CMGF, iniciais de excelente técnico da DT, comentou comigo que as memórias read only eram diferentes para cada modelo. Eram elas que tinham as instruções do computador.
A do /360 modelo 40 eram em fitas de plástico com posições marcadas: posição furada era bit 1, não furada bit 0! Lembram-se daqueles pianos antigos que tinham programação em fitas furadas e que tocavam sozinhos? Pianola? Pois eram assim os computadores. (Obviamente, há certa gozação nesta forma de explicar!) Era memória de capacitância, bem mais em conta.
Nestas memórias ROM, estão também muitos circuitos de teste. Quando o equipamento era ligado era testado por seu próprio circuito, coisa de 128 vezes. Mania de binário.
Presenciara várias mudanças. Máquinas diversas com programação própria para uma família que preservava os custos de programação. O advento dos discos e os sistemas operacionais. Eletro mecânico e válvulas passando para transistores discretos e chips. Vários tipos de memória: cartões perfurados, núcleos de ferrite, capacitância, transistores, fitas magnéticas e discos magnéticos removíveis. Vira aparecer o analista de sistema do sistema operacional, o analista de sistema de aplicações. O especialista da DT em instalação e em seguida o especialista da DT em sistema operacional. Uma interface padrão para ligar os vários periféricos.
Evolução e revolução rápidas.
E software começa o seu reinado. Hardware é importante, mas software é o bicho. Mais tarde Bill Gates entendeu a coisa e lá se foi para enricar e dominar.
Custo de programação passa a ser peça importante e passa a ser fundamental na capacidade competitiva das empresas.
Como disse um executivo: No futuro doarei o hardware para vender o software. Exagerado sim, mas mostra a tendência.

Curiosidades
Estou falando do ITA de 1955 a 1959. O Brasil e o ITA são muito diversos.
Automóveis são caros e ainda raros.O Leon tinha um Javelin. O Colibri um Sunbeam Talbot. O Miltão trazia, de vez em quando, uma Mercedes à Diesel de seu pai. Baterias enormes de XXXXX para aquecer o cabeçote (?) e só então injetar o diesel. Partida estranha!
O Adolfo, 58, tinha um Chevrolet BelAir, luxo só. O Verdi, 58, uma moto BMW. Muitos de automóveis de pedalinho, eu inclusive, ciclistas.
O Jean Paul comprovava a robustez da Vespa. Resistiu com galhardia à robustez do dono.
Apelidos, uns pegam, outros não. Havia o Fio de Linha, Filamento, Mutum, Xexéu, Costeleta, Gafanhoto, Goioba (cocô da goiaba), o Corú (diminutivo de Corutixa = coruja + lagartixa), o Miné (curto para Minestrone), o Sucata, o Fuligem, Chiquita Bacana, Sururu, Gafanhoto, Macarra, Aracati, Patativa (sotaque cantado de sulista) e por aí vai.
Vejam no anexo um disco rígido de 5MB de 1956.... Em Setembro de 1956 a IBM lançou o 305 RAMAC, o primeiro Computador com Hard Disk (HDD). O HDD pesava perto de 1 tonelada e tinha a capacidade de 5mb... É isso mesmo: cinco mega de memória! Apreciem o seu pen drive de 2 G. (Contribuição do BARM, colega do Marketing da IBM. Gozador, pergunta se sou eu quem está ajudando na descarga! Não sou eu.)

Baboseiras: cenas reais da vida
Cena 1
Saio de casa, coisa de 8h: 30 para andar na praia.Estou sem óculos.Ao longe vejo vulto esbelto, todo preto, caminhando no calçadão.
Primeiro imagino um poste caminhando. Depois um urubu muito alto e esbelto.
Continuo caminhando, aproximo-me do calçadão e agora posso ver a fisionomia do poste. Fisionomia muito bela: é a Luiza Brunet!Até hoje a mulher mais bonita que conheci. Ainda hoje muito bela sem o deslumbramento de anos atrás.Aprecio-a passar em seu passo rápido e ritmado, elegantíssima, de roupa toda preta, boné idem e óculos escuros.
Algo errado na personalidade de quem confunde a Brunet com poste e urubu!

Cena 2

Saio de casa para fazer a ginástica de alongamento. Eu e as meninas. Sou o único homem e a média de nossas idades deve ser de 70 anos.
Fazemos alongamento em pé na primeira meia hora e deitados, na canga, na outra.
De repente, surgem quatro pássaros, tamanho de galo garnisé, pernaltos e penas de cor cinza e branco. Bicos grandes e finos.Ficam alinhados, paralelos ao mar, apreciando-o.
De repente, grasnam, gritam, piam. Fazem um tremendo alarido. Muito maior que o tamanho preveria.Silêncio e de repente a zorra sonora de novo.
Somem.
Deitamo-nos. Vejo duas aves no parapeito de cobertura da Delfim Moreira.Aproximam-se, afastam-se. A asa levanta e encobre parte do outro. Roça o bico no outro e vice versa. Enlevados, namorando. Um idílio amoroso, ao ar livre, na brisa da praia, sem medo da altura ou de cair.
Quando volto a olhar, já se foram.
Urubus também amam.

Cena 3
Saio de casa, dia 12 de março, coisa de 8h: 30 para andar na praia. Estou sem óculos.
Caminho pelo calçadão. Um vulto se aproxima, emparelha comigo e passa. É a Luiza Brunet! De novo. Com roupa de cor escura, não preta.
O porte é deslumbrante. O passo é ritmado e rápido. Não tenho pico para acompanhá-la.
Aprecio o andar, o encantador balanço das ondas de seu quadril sustentado por duas pernas lindíssimas. E vai-se, vai-se.Quase acredito que Deus existe e quase mando às favas meu ateísmo.
Bom começar o dia assim.

Vivências #4

Vivências, mudanças e curiosidades
4 03 09 2007

Felizmente começo a receber comentários e correções. Contribuam, corrijam.
Estas vivências que relato não pretendem ser retrato fiel ou enciclopédico dos acontecimentos e nem estou verificando todos os dados, datas e fatos. É o que vem à lembrança, vaga memória.

“Uma observação: acho que a minha turma de 58 foi a primeira a ter uma matéria sobre transistores, não a de 59.
Abraços,
Pegurier
Fabiano José Horcades Pegurier El 58”

"Para adicionar às curiosidades antigas, devo dizer que fiz minha tese de doutorado na USA num computador 709 (antecessor à válvula do IBM7090 e 7094). Eles operavam a máquina passando corrente muito baixa nas válvulas para aumentar o tempo de vida. A memória era de cartão e aprendi a lidar com aquelas máquinas que selecionavam e ordenavam cartões pelo furo das colunas.
De volta ao Brasil em 1964 comecei minha tese de livre-docência naquele 1620 da Escola Politécnica. Era uma máquina curiosa. Era decimal e não binário. Eles usavam 4 transistores, com os quais fariam números de 0 a 15, para fazer algarismos de 0 a 9. A máquina tinha 20.000 daquelas quadras de transistores. A memória importante era a de cartões. O regime de trabalho era curioso. A administração (na época, ou pouco depois, o chefão do Centro de Computação era o Professor Fadigas (nosso paraninfo da turma de 1959)), me dava uma noite por semana, das 18h00min até as 06h00min da manhã seguinte. Ia para o computador carregando um bando de cartões num carrinho de feira. O carrinho de feira me singularizou na USP. Ainda há gente que se lembra do fato.

Guima.
Luiz Guimarães Ferreira El 59"

"Acho que todos nós passamos por essa era dos cartões perfurados "holerith".
Usando FORTRAN montei um sistema de controle de produção para as asas do T-25 Universal na Neiva aqui em S. José usando cartões que eram perfurados no ITA e processados no IBM 1130. Duas vezes por semana a gente levava as caixas de cartões de Kombi para o ITA e ia buscar os relatórios no dia seguinte!
O sistema programava a fabricação das peças em lotes econômicos e para uso "just in time"! Os cartões tinham também 3 colunas perfuradas para numeração para poder ordená-los de novo caso alguém derrubasse uma caixa e...acontecia!”

“O sistema foi descrito em um artigo publicado na revista ITA Engenharia de Maio de 1970, "Controle do Lançamento e da Fabricação numa Produção em Série de Aviões”. Tenho uma cópia amarelada que talvez não dê para escanear.

Chico Galvão
Francisco Leme Galvão AN 59"

Engenheiro da IBM USA comentou comigo que as máquinas tipo 1620 tinham cerca de mais de 20% de seus circuitos, apenas para testar o próprio equipamento. O teste da paridade era o que mais acusava problemas. Qualquer informação que transitava de uma parte a outra era checada em sua paridade. A perda de um bit era acusada.
Mais do que veloz, era essencial que o equipamento não errasse, ou então que acusasse seu próprio erro.
Havia, creio, mais erros de hardware que de software nos primórdios da computação. A tecnologia do transistor era muito nova, não estava ainda estabilizada.
Que bom seria se tivesse, ou buscasse as datas de lançamento dos equipamentos IBM 1401, IBM 1620, IBM Sistema /360, IBM Sistema /370 e por aí vai.
Quando foi lançado o compilador Assembler, o Fortran, o COBOL, o ALGOL, a Linguagem PL-1 e ...
E os sistemas operacionais DOS, MVS e outros que nem mais me lembro.
Cada uma destas datas era representativa de um avanço que dependia da existência de tecnologia de hardware e de software.
Creio que o lançamento e sucesso do 1401 fez a IBM recuperar a liderança nos equipamentos eletrônicos. Chegou depois, alcançou e supera seus principais concorrentes: a Burroughs e a Univac. Firma-se como gigante no setor.
Em uma era nova, outras grandes companhias lançam computadores. Lembro-me da Siemens e RCA que lançaram computadores. Não duraram muito.
Aparece a Control Data, visando o nicho da computação de pesquisa, alto desempenho nos cálculos. Deu muito trabalho com suas máquinas.
Mas será que foi só isso?
Lembro-me da lavagem cerebral que todos da IBM recebiam: os credos. Apenas três e eram muito fortes.
Respeito pelo indivíduoA excelência em tudo que fazíamosUma justa retribuição aos acionistas
E aquelas placas e cartazes com a palavra THINK, PENSE.
Acho que foi esta mística que nos acompanhou naqueles tempos. Vestíamos a camisa e tínhamos orgulho de pertencer à IBM.
Anos mais tarde, quando já era de marketing, lembro-me de reunião com cliente importante que comentou que o que o impressionava na IBM não eram as máquinas, o sistema operacional e por aí vai. Era arrogante e preços caros demais. Mas uma coisa era característica da IBM: todos sabiam os seus objetivos, sabiam o que dizer e podia contar com ela em situações difíceis. “Sei que algo aconteceu quando vejo um monte de Ibmistas circulando por aqui. Vocês não têm medo de enfrentar e resolver o problema. Aparecem.”
No universo de processamento de dados surgia o software aplicativo, o sistema operacional, o analista de sistemas e se mantinha a DT para manter os equipamentos e a equipe de vendas, o marketing. Este famoso por suas realizações e conquistas.
Tínhamos a reputação de sermos muito bons! Na DT ou marketing, este superando aquela em reconhecimento no público.
O vídeo começava a aparecer e cartão ainda era rei. Seu declínio começava mas ainda duraria muito até que o custo dos vídeos e os aplicativos permitissem a entrada de dados pelo vídeo.


Curiosidades
Conhecia o Guima, de nome, antes de entrar no ITA.
Fiz o Curso São Salvador para me preparar para o vestibular do ITA. Um professor de descritiva comentou que o Guimarães, do Santo Inácio, ou resolvera ou demonstrara que era impossível uma questão da prova de física do vestibular do ITA. O Guima já tinha fama e formou-se, no ITA, com louvor.
Era carioca, sorriso gostoso e amplo, até hoje mantido. Não me lembro dele em esporte algum.
Foi da JUC, Juventude Universitária Católica e queria evangelizar os infiéis, como eu, sem jamais ser chato ou inconveniente. Fez carreira acadêmica: ITA, USP e depois Unicamp.
Uma vez encontrei-me com o Paulus Aulus Pompéia, chefe da física, o Professor Pompéia, com um monte de provas na mão. Não resisti e perguntei quanto tempo levaria para corrigir aquele monte de provas. Sorriu e disse que provavelmente em uma hora. Depois complementou: Ás vezes depende do Guimarães. Tem resposta tão elaborada, graças ao seu conhecimento de matemática, que sai por caminhos diferentes e necessito especial atenção para acompanhar seu raciocínio. Já levei uma hora corrigindo prova dele.
Em recente reunião de nossa turma perguntei qual era o aluno mais difícil. O iteano me disse. Argumentei que o nível de gente da USP e Unicamp deveria ser tão bom ou melhor que o do ITA, porque a diferença? São mais exigentes. E manteve a opinião.
Hoje parece mais novo do que eu. O mesmo sorriso amplo e generoso. Usa tripé para tirar foto! Êta geringonça atrapalhativa e complicada.

O Chico Galvão veio, creio, de Pinda, Pindamonhangaba (nome danado de difícil). Tinha o r arrastado, demorado. Como carioca, achava coisa de caipira. Demorei uma semana para ver que em São José dos Campos, o r era demorado, o sotaque era aquele. Eu é que chiava e tinha r gutural.
Gostava de voar e de planador. Viveu nas nuvens ou atrás delas, buscando as térmicas. Mesmo mais velho contava com paixão suas experiências de vôo. Ainda hoje nos relata experiências e conquistas dos pilotos de planador. Até seu e-mail é nome de planador.
Não envelhecia! Em reuniões de turma chegou a parecer nosso filho. Que puta inveja.
Felizmente o tempo acaba sendo cruel com todos e se aproximou dos normais: ainda com jeito mais jovem, envelheceu.
O Jean Paul Jacob prestou-lhe uma homenagem muito bonita ano passado, quando recebeu o prêmio de do ano de 2006 no ITA. (Alguém se lembra de que era o prêmio? Eu estava lá.) Disse que estava muito impressionado com a capacidade e competência do Galvão e reconhecia que engenheiro de aeronaves também era intelectual de primeira, após ler alguns de seus trabalhos. Dá-lhe Galvão!

Vivências #3

Vivências, mudanças e curiosidades
3 03 03 2007

"Trabalhei com a IBM 650 instalada na CNAE (atual INPE). Sua principal característica era ser uma máquina de quatro endereços, ao contrário do usual na época, que era ter o máximo três endereços (opere o que está em A com o que está em B e coloque o resultado em C). No IBM 650 havia um quarto endereço, que era o endereço da instrução seguinte a ser executada (opere A com B, coloque em C e vá para D). Como a memória era em tambor magnético, conhecendo-se o tempo de execução de cada instrução, podia-se reduzir a perda de tempo devido à latência do tambor colocando a instrução seguinte onde ele estaria.José Francisco Guimarães Costa"
Presenciara uma mudança rápida de memórias – cartão perfurado, tambor, núcleos de ferrite, fitas magnéticas, discos fixos e removíveis. Vira a programação de linguagem de máquina passar para os compiladores e os primeiros sistemas operacionais.
A IBM lançou a IBM 1620, muito próximo da IBM 1401. Esta visava o lado comercial, a 1620 tinha como alvo as universidades e centros de pesquisa.
Preço bem menor e o desconto para universidades chegava a 60% (sessenta por cento).
Anunciaram a sua venda para o Brasil e houve uma venda para a USP, creio que para o Laboratório de Física.
Anúncio e venda de máquina na IBM seguia um procedimento comum: decidia-se se a máquina seria lançada, treinava-se o pessoal de marketing na máquina e havendo uma venda, treinava-se então alguém da DT. A rotina da DT era simples, escolhia-se um técnico, era mandado para fazer o curso no exterior, aprender, e dar um curso para outros técnicos.
Fui o escolhido e lá fui eu para San Jose, na Califórnia, USA.
Dizem que a fábrica foi localizada na costa oeste de propósito. As fábricas da IBM ficavam no estado de Nova Iorque. Poughkeepsie, Endicott e Rochester eram os locais das fábricas e onde a IBM começara. A pesquisa e desenvolvimento também.
No novo mundo das máquinas com válvulas e agora com os transistores, mudava o paradigma. Mudaram a localização e os novos contratados seriam pessoas sem experiência em processamento de dados e da IBM. Gente com a cabeça a fazer, não já feitas, e criar coisas novas. San Jose foi um centro de inovação em tecnologias e equipamentos. No caso de software, desconheço onde começa: poderia ser em qualquer lugar, pois era novidade, não havia o passado.
San Jose era uma cidade média e a fábrica da IBM, uma beleza. Sofri um pouco porque tinha que alugar um carro e dirigir nos States. Tirei uma carteira de motorista internacional. E sofri com o carro novo e as estradas de muitas pistas, trevos e carros demais. Sobrevivi.
No curso, não havia estrangeiros, só americanos. E ficávamos em grupos em apartamentos que alugávamos. Os gringos sabiam cozinhar! Surpresa para mim que passara de classe média baixa para classe média média e depois, no ITA, diria que era de classe média alta. Tínhamos criadagem: uma cozinheira e uma arrumadeira foram comuns na minha infância e juventude. E homem não tinha nada a fazer na cozinha!
Estranhavam porque não tinha sotaque!
Virara padrão ter um osciloscópio da Tektronix (creio ser esta a grafia) junto a cada computador. Ficava na instalação. Aprender a sincronizar e bolar um programa que fizesse a máquina ficar em "loop" era essencial. A programação chegava à DT. Novo paradigma, entender os analistas, ajudá-los e por eles ser ajudado,
Aparecem também os programas de teste. Cada máquina vinha com manuais e documentação ultra bem feitos. E os cartões onde estavam os programas de teste. Ajudavam, e muito. O meio era o cartão perfurado de 80 colunas, furos quadrados.
A 1620 tinha um console digno de menção: luzes, interruptores e seqüência das instruções. Era possível realizar uma instrução por toque de um switch e acompanhar os dados antes e depois da operação. A proximidade entre o operador e a máquina era muito grande.
Tinha pouco equipamento periférico: usava fita tipo telex de entrada e saída! Mais tarde viria a entrada e saída de cartões. Não me lembro da impressora mas tinha uma plotter x y para traçar gráficos. Era um programa que transformava os dados digitais em variáveis analógicas e dava saída na plotter.
A máquina chegou e fomos instalá-la na USP. Não passava nos testes. Pesquisa dura até que vimos que a matriz de endereçamento da memória estava com defeito. Não tínhamos seu substituto no país. Um dos técnicos tinha enorme habilidade em soldar e descobrimos que um fio poderia estar solto. Tudo era delicado e a solda tinha que ser feita rapidamente e com precisão para não quebrar fio. Conseguiu, a máquina passou nos testes e foi entregue à USP.
Mas dias depois um dos físicos nos mostrou que a máquina não estava invertendo matrizes corretamente. Conseguiu mostrar o problema em uma matriz três por três. E para nossa surpresa descobrimos que a 1620 considerava que +0 (zero mais) era maior que -0 (zero menos)!
Um pulso chegava a um circuito antes do tempo correto. Para atrasá-lo nada como usar um capacitor numa saída do circuito que gerava o pulso. Com dois ou três capacitores vimos o que dava o atraso correto. Lá fomos de novo soldar um componente externo em uma placa. Foi a placa FCS, única e com marcador para indicar que não poderia trocar com outra placa. Deixar uma máquina com um gatilho não era de nossa cultura.
A salvação foi um MES, que era um conjunto de instruções para alterar o circuito da máquina inclusive atualizando a documentação. O gatilho me fez ganhar meu primeiro prêmio na IBM. O MES removeu o gatilho.
A DT, posteriormente, criou a DT Software, técnicos especializados nos sistemas operacionais, os SAC de hoje das empresas de software, tipo Microsoft.
Recebíamos uma publicação da DT que relatava defeitos, causas e soluções havidas para diagnóstico. Coisas como pressionar as placas onde estavam os componentes para eliminar os maus contatos, e consequentemente defeitos intermitentes. (No Rio os Malcolm, os maus contatos, em SP os OSMAR, os mar contatos.) Desligar os ventiladores do sopé das portas das máquinas para aquecê – las e firmar um defeito. Soprar por um canudo em certos locais para aquecer e humidificar certo local e tornar o defeito constante.
Defeito intermitente era o grande vilão e dava enorme insegurança ao usuário. Às vezes rodava um serviço por longo tempo, coisa de uma hora, e pronto, antes de terminar vinha o defeito. Serviço perdido, começar tudo de novo. E terminaria?
As máquinas, dizíamos, tinham sintomas de gravidez: enjoavam pela manhã. O ar condicionado era desligado a noite, a umidade condensava e defeito. Solução simples: não desligar o ar ou ligá-lo uma ou duas horas antes de ligar o equipamento.

Gostaria de contribuições e críticas, como fez o JF. Até a próxima, se e quando houver.


Curiosidades
Nasci em Niterói, capital do Estado do Rio de Janeiro. A cidade Rio ficava no distrito Federal e era a capital do país.
Nasci em casa, a mesma onde nascera a minha mãe! A gente nascia em casa. Havia a parteira, que não era coisa rara. E os médicos também e o padrão era nascer em casa. Pelo menos em Nictheroy, Vila Real da Praia Grande.
Não me lembro destes tempos, a não ser por conversas dos familiares. Nascera com a ajuda de fórceps, e tinha uma cicatriz na fronte esquerda perto do olho. Dizem que quando meu pai me viu, comentou: Puxa como é feio. E parece que o consenso geral é que era mesmo. Depois melhorei, fiquei razoavelmente bem apessoado.
Quando tinha três anos meu pai foi estudar engenharia naval no MIT e ficamos 5 anos nos States. Boston e depois Filadélfia. Voltou com mestrado e foi professor do MIT durante um ano.
O inglês foi a língua em que fui alfabetizado. Sotaque nenhum, inglês anasalado de americano!
Imagine minha chegada no Colégio Brasil, aos 8 anos entrando na turma de alfabetização e lendo Tico Tico (nome de revistinha de criança) e dizendo taico taico. Dramático! Era galhofa geral! É ele!
Superei e no fim do semestre já estava na turma de meu nível.

Mais tarde, já como vendedor da IBM junto às universidades (chamavam-nos de representantes técnicos!), recebi ligação de iteano, que estava na Coppe, para reclamar da lentidão da 1620. Estava meio chateado. Rodou o programa e obrigou-me a esperar, junto com ele, pelo traçado do gráfico na plotter. Coisa de vinte minutos. Fique parado olhando uma plotter plotando vinte minutos e sinta o desconforto do tempo. Ta vendo, é uma lesma. Na saída perguntei: França, sem a 1620, quanto tempo você levava para traçar o gráfico? Parou, pensou e deu uma gargalhada: Coisa de uma semana ou mais.
Lembrei-me do ITA onde tínhamos que fazer um root lócus, acho que era esse o nome, e a régua de cálculo fumegava. Quem já usou a régua de cálculo?

No ITA, creio que fomos a primeira turma que teve aula de transistor! Um francês muito bom e gozador. A mudança na tecnologia afetava o currículo.
Curioso é que nas mudanças radicais, nem sempre o estabelecido prevalece. Em algum canto de minhas vagas lembranças, antes tinha memória, li que nenhum fabricante de veleiro evoluiu para os barcos a vapor, nenhum fabricante de carroceria virou montadora de automóvel e nenhum fabricante de válvula ficou grande no mundo dos transistores e chips.
As próprias razões e técnicas que causaram o sucesso podem dificultar romper com os paradigmas antigos e aceitar os novos. Na vaga lembrança, há um artigo sobre a RCA que mostra a luta dos novos tentando convencer a RCA para investir no transistor e o pessoal da engenharia argumentando que não seria rentável, que a relação ruído com alguma coisa era ridícula e por aí vai. Esqueceram-se de que as novas tecnologias começam pior e rapidamente superam em qualidade e custo a tecnologia anterior, ou não vingam. Tem que vislumbrar a que vai vingar.
O Bill Gates fez isso com a Internet!

Fernando Coelho de Souza

Vivências #2

Vivências, mudanças e curiosidades
2 02 25 2007

Formei-me no ITA, eletrônica em 59. Em fevereiro de 1960 entrava para a Divisão Técnica da IBM. Éramos três engenheiros do ITA.
O mundo então da IBM era de máquinas eletromecânicas. Mas já era vislumbrada a mudança para máquinas eletrônicas. Era preciso trazer engenheiros para este mundo que viria.
O cartão perfurado, as máquinas Holerite, faziam a contabilidade, crediários e tudo mais da gestão das organizações. O mundo de processamento de dados.
Perfuradoras, conferidoras, separadoras, impressoras, intercaladoras e calculadoras eletromecânicas davam conta da gestão. E põe cartão perfurado nisso!
A programação se é possível chamar assim, de algumas das máquinas, eram com pegas em espécie de tabuleiro. Parecia coisa de telefonista dos tempos antigos! Tabuleiros muito complexos eram guardados e trocados para cada serviço.
Os da DT – Divisão Técnica da IBM, eram chamados de mecânicos ou graxeiros. Entendiam de tolerâncias mecânicas, eram treinados nas máquinas e na técnica de diagnosticar defeito. A mala de ferramenta, bem pesada, era padronizada e, tudo, de ótima qualidade. Creio ter feito parte de uma das últimas turmas de treinamento em máquinas convencionais.
As máquinas eram locadas! Sem exceção. Daí a necessidade de um ótimo serviço de manutenção, mais corretivo que preventivo. A gestão da DT era impressionante. Cada filial tinha um gerente da DT e abaixo vinham os supervisores, os gerentes de campo, que controlavam os técnicos.
Cada defeito era reportado em formulário especial, válido para todas as IBMs onde operava. Registrava-se o tempo do reparo, qual fora o defeito e em que máquina. Uma enorme quantidade de informações que permitiam saber o que melhorar nas próximas máquinas. E controlar o desempenho dos técnicos.
Notar que a mídia era o cartão: a memória era o cartão perfurado de oitenta colunas!
A IBM lançou um computador, creio que o IBM 650, que tinha memória de tambor. Foi dito que ao mostrarem a máquina para a cúpula da IBM, esta pensou que poderiam vender 50. Venderam, locaram coisa de 500!
Não trabalhei em nenhuma máquina convencial. Tive que esperar a IBM 1401 e a IBM 1620 que viriam logo a seguir.
Eram máquinas de transistores discretos, ou seja, não havia chip! Nas placas colocavam-se os transistores e demais componentes, todos discretos, visíveis. Trocavam-se placas, componentes não.
A memória máxima de uma IBM 1401 era de 16k! Isto mesmo dezesseis mil posições de memória. A memória era de núcleos de ferrite.
A programação era em linguagem de máquina, em autocoder e depois em assembler. Tínhamos acesso, pelo painel na IBM 1401, ao caráter armazenado na memória. E podíamos modificá-los.
E apareceram as fitas magnéticas, símbolo inconfundível da era moderna. Todos queriam ver as unidades de fitas. Apareceu o Sort, aplicativo para colocar os dados da fita em ordem, crescente ou decrescente. O assembler tinha instruções, rotinas de entrada saída para associar o computador central com seus periféricos: leitora de cartões, impressoras, perfuradoras e fitas magnéticas.
E tinha a RAMAC que era um dispositivo de E/S das 1401. Eram discos horizontais recobertos de material magnético. O trambolho rodava e um braço mecânico subia e descia, entrava e saia para ler os dados. Chamo de trambolho porque era trambolho mesmo: muito grande. Mas tinha a vantagem de ter acesso aleatório e não apenas seqüencial como nas fitas.
Lidávamos agora com memória de cartão, núcleos de ferrite, fitas magnéticas e discos tipo RAMAC. Logo depois surgiram os discos magnéticos removíveis. As panelas eram memórias portáteis e teoricamente infinitas!
E aparece o console para a 1401: um terminal tipo televisão aparecia. E junto veio o sistema operacional, primeiro em fita, TOS Tape Operating System e depois o DOS – Disk Operating System.
Quando apareceu o COBOL e Fortran não sei exatamente, mas foi por esta época.
Presenciara uma mudança rápida de memórias – cartão perfurado, tambor, núcleos de ferrite, fitas, discos fixos e removíveis. Vira a programação de linguagem de máquina para os compiladores e os primeiros sistemas operacionais.


Curiosidades
Éramos três os iteanos que entraram para a DT: eu, o Murta e o Carlos Henrique Moreira.
Este, o Miné, viu o que era, não gostou e saiu da IBM. Fez brilhante carreira de executivo na Embratel, Xérox, ATL, Claro e hoje é o Presidente da Embratel.
Era do time de basquete do ITA e a turma de 59 foi campeã quatro vezes seguidas. Carlos Henrique, Miltão, Edson Paladini e eu formávamos o quarteto básico. Jogavam também, que me lembre, o Corutixa, o Barros Carvalho e ....
O Miné, apelido do Carlos Henrique, carregou a tocha olímpica quando passou pelo Rio. Comentou que foi uma sensação incrível, vendo as pessoas aplaudindo quando passava. Foi sensação parecida como quando levou sua filha ao altar.
Um amigo comentou que o Carlos Henrique tivera sua prisão decretada por um juiz. A minha resposta foi que tinha algo errado com o juiz.
Xará meu da IBM, dizia que o Carlos Henrique foi a pessoa que conhecera com a melhor postura de Presidente, sempre, a toda hora.

Murta era aquela figura inesquecível que mereceria um artigo de personagem do Readers Digest.
Veio de Minas, de família bem pobre. Conservou seu jeito de caipira até o fim. Sentava-se de cócoras com tranqüilidade.
No ITA criou aranhas! Creio que se casou com a Judite, jovem de São José dos Campos: figura muito atraente e muito simpática. Dava-me bem com os dois.
Na DT, por suas qualidades pessoais e enorme habilidade técnica, tornou-se responsável pela manutenção das máquinas IBM 1401. Onde o problema não era resolvido no nível da Filial, lá ia o Murta. Eu era o número 2, quando por qualquer motivo o Murta não estava disponível.
Pelo jeitão tão peculiar e agradável, era o querido dos clientes em todo o Brasil. Conheceu um bocado do Brasil e de clientes tipo Serpro, Bradesco, Banco do Brasil e por aí vai.
Projetou e construiu sozinho, um gravador de fita magnética, de rolo, tanto a parte eletrônica quanto a mecânica. Funcionava, eu vi e ouvi. Acabamento nada primoroso e com boa qualidade de gravação e som.
Quando saiu da DT para a área de marketing, não se deu bem. Foi muito infeliz. Perdi contato e soube que morreu tempos depois. Lamento não ter convivido mais com ele.

As máquinas eram pesadas e seu transporte feito por empresas selecionadas. Uma, vou chamá-la de Portuguesa, era famosa, pelo menos no Rio.
O dono, um português, sabia entregar as máquinas. Contratava os patrícios, bastante fortes para trabalhar com ele. Três historinhas que se non e vero são curiosas.
A intercaladora era uma máquina pequena, mas em operação deslizava e saia do lugar. Na remoção os transportadores, passam a correia pelo ombro, passam na máquina e tentam levantá-la. Um diz para o outro: pequena mas pesadinha! Força compadre. E arrancaram os tacos pois estava presa no chão.
Uma máquina era para ser entregue em andar alto do Ministério da Fazenda, no Rio. O pessoal de marketing da IBM foi conversar com o chefe da seção e este os levou ao engenheiro do MF. Quando explicaram o tamanho e peso da máquina, o comentário do engenheiro foi que não conseguiria subir pelo elevador e teria que vir por fora. Passava o transportador e comunicaram tal fato a ele. A resposta veio rápida: Mas já está lá! Subira pelo túnel do elevador com suas roldanas e enorme tábua.
O dono contratou um jovem patrício e encantou-se com ele. Era ágil, forte e inteligente. Aproximou-se dele e disse-lhe que faria gosto se casasse com sua filha. A resposta foi simples e direta: não posso porque ela não me fala ao caralho. O dono de imediato concordou que realmente não era possível. Sem ofensas, numa boa.

Fernando Coelho de Souza

Vivências #1

Vivências, mudanças e curiosidades
1 02 25 2007

Quando virem este blog já sabem que são vivências, mudanças e experiências descritas por um septuagenário. Porque, não sei. Mas deu-me vontade de relatá-las.
Críticas e observações são mais do que bem vindas, serão apreciadas. Espero a crítica sarcástica e cáustica de alguns e construtivas destes mesmos ou outros.
Que a crítica ou sugestão venha em particular (private) ou não.
O meu público alvo será o ITA e Ex IBMistas.
A mensagem foi dada.
Fernando Faria Coelho de Souza
fernandocoelho1@gmail.com