domingo, 25 de março de 2007

Vivências #6

Vivências, mudanças e curiosidades
6 03 25 2007

Contribuições
Nenhuma e estou precisando. Os que estão na escuta, entrem!

Vivências e
No livro, “Feitas para durar”, excelente, há um capítulo em que fala do investimento que a IBM fez para desenvolver e lançar o /360. A observação que fazem é que se o /360 não fosse bem sucedido, a IBM poderia ter falido.
Não tão fora de propósito assim pois, quando o Comet, primeiro jato comercial, começa a cair a De Havilland deixa de ser uma força na fabricação de aviões comerciais. Não sei se faliu. Investimento muito grande e fracasso colossal.
Tínhamos racionamento de energia no Rio. Duas horas pela manhã e duas à noite. Tivemos e lembro-me da corrida para chegar quando os elevadores estavam funcionando.
Computador não gostava de eletricidade instável. Surgiram os grupos motores geradores. Lá estavam de prontidão para entrar no ar com a queda ou piscada da luz. E tome barulho e investimento.
Alguns com baterias gigantes para fornecer a energia por um curto tempo para que o motor entrasse em ação. Alguns com um enorme e pesado volante para manter a rotação quando caía a luz. Ou uma combinação dos dois.
Como o problema era geral em várias partes do mundo, eis aí uma oportunidade para a IBM: desenvolver um sistema estático para ter o fornecimento de energia com as precisões requeridas na freqüência e voltagem. Não substituía a Light, apenas retificava e fornecia na voltagem e freqüência adequadas. O curioso é que a freqüência era algo deveras importante. Por dia, o número de ciclos certos era importante! Mistérios.
Fui designado para acompanhar o projeto, pela DT.Fábrica em Kingston, Nova York. Lá fiquei coisa de 5 meses.O projeto foi abortado. O fornecimento de energia tinha melhorado em toda parte e o projeto não seria rentável.
Mas vi em osciloscópio o quanto um computador sugava de amperagem na partida. Era um pico de corrente, coisa de mais de cem vezes o habitual. Tinham osciloscópios com memória e podíamos ver o pico e medir a corrente. O pico durava poucos ciclos, caía rápido e não havia fusível que queimasse na velocidade necessária ou não estourasse. Lembro-me que cada fusível apropriado custava coisa de $50.
A IBM crescia e a brasileira, idem. Notei que as decisões não eram na DT. Marketing era quem mandava, quem apontava os rumos. A DT era o apoio, uma necessidade mas na retaguarda. Comecei a pensar em sair da DT. Tive sorte, encontrei o Leão Sessak e como meu padrinho, me levou para marketing.
Transistores, osciloscópios, diagnósticos ficariam para o passado. Agora era conhecer os produtos e vender, cumprir cotas.
Em 1967 passei para a Divisão de Marketing e de lá não mais sairia enquanto na IBM.

Curiosidades
O Luiz Peregrino, da minha turma, veio do interior de São Paulo. Bauru?
Tinha o r arrastado. Baixo, meio alourado, nariz empinado, contestador total. Discutia com todos. Até com o terror, o Professor Dr. Luiz Valente BOFFI, que chegara do MIT. Era bom vê-lo argumentando. É o mesmo até hoje quando falo com ele no skype.
Estamos no ano de 1958, copa do mundo. E um garoto, chamado Pelé, aparece. Será que Feola vai escalá-lo no lugar do Mazola (ou outro nome?)? Bate papo com opiniões diversas. Bostejos mil. Televisão não havia, era radinho.
Aparece uma revista com o Pelé na capa. O Peregrino olha e pergunta que neguinho é esse? Caímos de pau em cima dele. É o Pelé! A grande revelação! Não lê jornal? E por aí vai.
Impassível pergunta: ele sabe matemática? Não. Conhece eletrônica?. Não. Então não me interessa.
Anos depois nos Estados Unidos, na Califórnia, encontro-me com ele. Já estava na HP há muito. Conversa comigo e me revela que entendera as equações de Maxwell. Aterrorizei-me, alguém entendia as equações do escocês! Meu complexo de inferioridade quase salta, tal o puxão que levara. E me explica:- Veja um lago calmo, água imóvel. Deixe cair uma pedra e as ondas se formam. Propagam-se como Maxwell previra. Custei muito a perceber.
Meu complexo virou definitivo!
Estou no Rio, vindo da cidade, dirigindo e dando carona ao Murta, também da minha turma. O rádio emudece quando passamos em um túnel. E o Murta me informa que agora sabia por que, em certos túneis, o rádio não pegava e em outros pegava. Era por causa dos fios elétricos dos bondes.que passavam em alguns túneis. (Naquela época, anos 60, ainda tínhamos bondes elétricos.).- O Maxwell explica. Lembra-se das equações dele?
Outro a me revolver meus complexos. Oh escocesinho de bosta, persegues-me!
Um dos professores comenta conosco que fora pego na Dutra em excesso de velocidade. Parado o guarda pede os documentos e nota que tem um documento com símbolo do ITA.- O senhor é do ITA?- Sou?- Conhece o Professor Pompéia? (Paulus Aulus Pompéia, Chefe do Departamento de Física) - Conheço sim. Por quê?- O senhor pode ir e dê-lhe lembranças de ....(nome do guarda). É que o pegamos correndo com excesso de velocidade e ele ficou nos explicando que não havia suficiente precisão para multá-lo. Passou quase meia hora nos explicando o que era número significativo. Como o senhor deve saber também... Por esta vez passa, mas maneire.
O Chen To Tai veio do MIT com fama de ser das pessoas que mais conhecia antenas, propagação etc.. O que me ensinaria as equações do escocês, o James C Maxwell, acho.
Figura pequena, tez escura e muito agradável.
A minha turma fez sua viagem à Argentina, voando em um DC 3 da FAB, bimotor convencional. Jato, então, nem pensar.
Quando estamos embarcando em São José, o sargento vê o Jean Paul entrar e comenta:
- Este vai dar problema para o comandante.
Os seus 125 kg fariam diferença quando andasse no avião.
E lá fomos nós. Quando começamos a voar sobre a planície do sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, céu azul, nuvens de carneirinho, e o avião pulava, não muito, mas constante, Estava sobe e desce, estômago sentia. A sensação era desagradável. O Rui ficou pálido, enjoara, não sei se vomitara. Para convencê-lo a seguir viagem, quando pousamos em Porto Alegre foi duro. Não sei se foi empurrado para dentro, mas seguimos com ele a bordo. A viagem foi mais tranqüila, com menos brincadeira aeronáutica de ioiô.
Em Buenos Aires, uma noite, saí para jantar junto com o Chen To Tai e patota. Fomos a um restaurante chinês que descobrira e que conhecia o dono. Restaurante chinês era tremenda novidade. Chegou bateu papo com o dono em chinês e disse se podia pedir para nós também. Explicou que pediria a comida que comia como estudante. Topei e não me arrependo.
Pediu uma seqüência de legumes e chop suey. Depois algo com frango. O curioso é que comia os legumes, não me lembro quais e o chop suey, sem misturá-los, ora um, ora outro. Com pauzinho, é claro, e em tigelas.
Não misturava para sentir o sabor de cada comida. Curioso.
Quando a rádio do ITA, precisou de uma antena, bipolar, creio, pediram ao Chen to Tai para projetá-la. Feito o projeto levaram para fazer e o técnico da aeronáutica comentou: Precisa de coisa de vinte centímetros mias comprida. E não é que tinha razão! O escocês sifu, ainda bem!

2 comentários:

GuardeTop disse...

Fernando, curioso e muito bem escrito seu blog. Se bem que podia chamar tunel do tempo. Não que as histórias sejam antigas demais. São na verdade muito interessantes. Voltarei sempre para ver as atualizações.

saudações iteanas
jamil
aer 98

fernando coelho vivencias disse...

Jamil
Não é um túnel do tempo: é o tempo mesmo.
Volte sempre e contribua.
Saudaçoes iteanas
Fernando