domingo, 25 de março de 2007

Vivências #4

Vivências, mudanças e curiosidades
4 03 09 2007

Felizmente começo a receber comentários e correções. Contribuam, corrijam.
Estas vivências que relato não pretendem ser retrato fiel ou enciclopédico dos acontecimentos e nem estou verificando todos os dados, datas e fatos. É o que vem à lembrança, vaga memória.

“Uma observação: acho que a minha turma de 58 foi a primeira a ter uma matéria sobre transistores, não a de 59.
Abraços,
Pegurier
Fabiano José Horcades Pegurier El 58”

"Para adicionar às curiosidades antigas, devo dizer que fiz minha tese de doutorado na USA num computador 709 (antecessor à válvula do IBM7090 e 7094). Eles operavam a máquina passando corrente muito baixa nas válvulas para aumentar o tempo de vida. A memória era de cartão e aprendi a lidar com aquelas máquinas que selecionavam e ordenavam cartões pelo furo das colunas.
De volta ao Brasil em 1964 comecei minha tese de livre-docência naquele 1620 da Escola Politécnica. Era uma máquina curiosa. Era decimal e não binário. Eles usavam 4 transistores, com os quais fariam números de 0 a 15, para fazer algarismos de 0 a 9. A máquina tinha 20.000 daquelas quadras de transistores. A memória importante era a de cartões. O regime de trabalho era curioso. A administração (na época, ou pouco depois, o chefão do Centro de Computação era o Professor Fadigas (nosso paraninfo da turma de 1959)), me dava uma noite por semana, das 18h00min até as 06h00min da manhã seguinte. Ia para o computador carregando um bando de cartões num carrinho de feira. O carrinho de feira me singularizou na USP. Ainda há gente que se lembra do fato.

Guima.
Luiz Guimarães Ferreira El 59"

"Acho que todos nós passamos por essa era dos cartões perfurados "holerith".
Usando FORTRAN montei um sistema de controle de produção para as asas do T-25 Universal na Neiva aqui em S. José usando cartões que eram perfurados no ITA e processados no IBM 1130. Duas vezes por semana a gente levava as caixas de cartões de Kombi para o ITA e ia buscar os relatórios no dia seguinte!
O sistema programava a fabricação das peças em lotes econômicos e para uso "just in time"! Os cartões tinham também 3 colunas perfuradas para numeração para poder ordená-los de novo caso alguém derrubasse uma caixa e...acontecia!”

“O sistema foi descrito em um artigo publicado na revista ITA Engenharia de Maio de 1970, "Controle do Lançamento e da Fabricação numa Produção em Série de Aviões”. Tenho uma cópia amarelada que talvez não dê para escanear.

Chico Galvão
Francisco Leme Galvão AN 59"

Engenheiro da IBM USA comentou comigo que as máquinas tipo 1620 tinham cerca de mais de 20% de seus circuitos, apenas para testar o próprio equipamento. O teste da paridade era o que mais acusava problemas. Qualquer informação que transitava de uma parte a outra era checada em sua paridade. A perda de um bit era acusada.
Mais do que veloz, era essencial que o equipamento não errasse, ou então que acusasse seu próprio erro.
Havia, creio, mais erros de hardware que de software nos primórdios da computação. A tecnologia do transistor era muito nova, não estava ainda estabilizada.
Que bom seria se tivesse, ou buscasse as datas de lançamento dos equipamentos IBM 1401, IBM 1620, IBM Sistema /360, IBM Sistema /370 e por aí vai.
Quando foi lançado o compilador Assembler, o Fortran, o COBOL, o ALGOL, a Linguagem PL-1 e ...
E os sistemas operacionais DOS, MVS e outros que nem mais me lembro.
Cada uma destas datas era representativa de um avanço que dependia da existência de tecnologia de hardware e de software.
Creio que o lançamento e sucesso do 1401 fez a IBM recuperar a liderança nos equipamentos eletrônicos. Chegou depois, alcançou e supera seus principais concorrentes: a Burroughs e a Univac. Firma-se como gigante no setor.
Em uma era nova, outras grandes companhias lançam computadores. Lembro-me da Siemens e RCA que lançaram computadores. Não duraram muito.
Aparece a Control Data, visando o nicho da computação de pesquisa, alto desempenho nos cálculos. Deu muito trabalho com suas máquinas.
Mas será que foi só isso?
Lembro-me da lavagem cerebral que todos da IBM recebiam: os credos. Apenas três e eram muito fortes.
Respeito pelo indivíduoA excelência em tudo que fazíamosUma justa retribuição aos acionistas
E aquelas placas e cartazes com a palavra THINK, PENSE.
Acho que foi esta mística que nos acompanhou naqueles tempos. Vestíamos a camisa e tínhamos orgulho de pertencer à IBM.
Anos mais tarde, quando já era de marketing, lembro-me de reunião com cliente importante que comentou que o que o impressionava na IBM não eram as máquinas, o sistema operacional e por aí vai. Era arrogante e preços caros demais. Mas uma coisa era característica da IBM: todos sabiam os seus objetivos, sabiam o que dizer e podia contar com ela em situações difíceis. “Sei que algo aconteceu quando vejo um monte de Ibmistas circulando por aqui. Vocês não têm medo de enfrentar e resolver o problema. Aparecem.”
No universo de processamento de dados surgia o software aplicativo, o sistema operacional, o analista de sistemas e se mantinha a DT para manter os equipamentos e a equipe de vendas, o marketing. Este famoso por suas realizações e conquistas.
Tínhamos a reputação de sermos muito bons! Na DT ou marketing, este superando aquela em reconhecimento no público.
O vídeo começava a aparecer e cartão ainda era rei. Seu declínio começava mas ainda duraria muito até que o custo dos vídeos e os aplicativos permitissem a entrada de dados pelo vídeo.


Curiosidades
Conhecia o Guima, de nome, antes de entrar no ITA.
Fiz o Curso São Salvador para me preparar para o vestibular do ITA. Um professor de descritiva comentou que o Guimarães, do Santo Inácio, ou resolvera ou demonstrara que era impossível uma questão da prova de física do vestibular do ITA. O Guima já tinha fama e formou-se, no ITA, com louvor.
Era carioca, sorriso gostoso e amplo, até hoje mantido. Não me lembro dele em esporte algum.
Foi da JUC, Juventude Universitária Católica e queria evangelizar os infiéis, como eu, sem jamais ser chato ou inconveniente. Fez carreira acadêmica: ITA, USP e depois Unicamp.
Uma vez encontrei-me com o Paulus Aulus Pompéia, chefe da física, o Professor Pompéia, com um monte de provas na mão. Não resisti e perguntei quanto tempo levaria para corrigir aquele monte de provas. Sorriu e disse que provavelmente em uma hora. Depois complementou: Ás vezes depende do Guimarães. Tem resposta tão elaborada, graças ao seu conhecimento de matemática, que sai por caminhos diferentes e necessito especial atenção para acompanhar seu raciocínio. Já levei uma hora corrigindo prova dele.
Em recente reunião de nossa turma perguntei qual era o aluno mais difícil. O iteano me disse. Argumentei que o nível de gente da USP e Unicamp deveria ser tão bom ou melhor que o do ITA, porque a diferença? São mais exigentes. E manteve a opinião.
Hoje parece mais novo do que eu. O mesmo sorriso amplo e generoso. Usa tripé para tirar foto! Êta geringonça atrapalhativa e complicada.

O Chico Galvão veio, creio, de Pinda, Pindamonhangaba (nome danado de difícil). Tinha o r arrastado, demorado. Como carioca, achava coisa de caipira. Demorei uma semana para ver que em São José dos Campos, o r era demorado, o sotaque era aquele. Eu é que chiava e tinha r gutural.
Gostava de voar e de planador. Viveu nas nuvens ou atrás delas, buscando as térmicas. Mesmo mais velho contava com paixão suas experiências de vôo. Ainda hoje nos relata experiências e conquistas dos pilotos de planador. Até seu e-mail é nome de planador.
Não envelhecia! Em reuniões de turma chegou a parecer nosso filho. Que puta inveja.
Felizmente o tempo acaba sendo cruel com todos e se aproximou dos normais: ainda com jeito mais jovem, envelheceu.
O Jean Paul Jacob prestou-lhe uma homenagem muito bonita ano passado, quando recebeu o prêmio de do ano de 2006 no ITA. (Alguém se lembra de que era o prêmio? Eu estava lá.) Disse que estava muito impressionado com a capacidade e competência do Galvão e reconhecia que engenheiro de aeronaves também era intelectual de primeira, após ler alguns de seus trabalhos. Dá-lhe Galvão!

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