domingo, 25 de março de 2007

Vivências #5

Vivências, mudanças e curiosidades
5 03 16 2007

Contribuições
“Tenho uma:Tinha uma bicicleta daquelas de aro muito pequeno…Sentia todos os buracos e elevações do percurso.E levava meus programas que eram em fichas (cartões) perfuradas atrás, no “bagageiro”. Presas com elástico.Um dia, puf, caíram todas.Acho que foi a primeira vez que o meu computador deu pau... De um jeito engraçado.Tive que reordenar todas as fichas, graças a Deus elas eram numeradas.Daí pra frente é um sofrimento constante com computador que deu pau.E continua dando.
Edmour Saiani ITA 75”

Vivências
A troca de equipamentos não era trivial. Já eram meio indispensáveis e não tê-los operacionais, um grande transtorno para a gestão e operação das empresas. As mudanças eram planejadas e habitualmente feitas em fins de semana ou feriados.
Saía um equipamento e entrava o outro no fim de semana. Quando a instalação era no mesmo local era mais problemática.
Imagine o peso das máquinas, os cabos sendo estendidos no piso falso, a retirada e colocação das máquinas, ligar, instalar, passar os testes e entregar ao cliente para que pudesse operar.
Na DT, tinha a moçada especializada em instalação. Trabalhavam e apoiavam antes da instalação, cuidando das diversas etapas: ar condicionado, piso falso, local, suprimento de força e transporte e por aí vai. Funcionava. Como dizia o personagem de Shakespeare, há mistérios.
Anos depois, quando em marketing, fui Gerente da Filial Rio Serviços e tive como cliente o Banco Chase Manhattan. Existia o Chase!
Lidava com o Vice Presidente. Americano, bastante viajado, foi a primeira pessoa que no almoço tinha uma agenda escrita e a seguia. Banqueiro se trata bem. Gostava do que comia, achava graça na agenda.
Falávamos sobre os diversos problemas e o que estava bom e as críticas que tinha. Marcou-me o dia em que na agenda estava “Instalação do novo equipamento” e seu comentário foi: Não sei bem porque, mas no Brasil não é um problema segundo me avisaram. Tive muitos problemas no mundo todo, aqui disseram para não me preocupar. Está tudo planejado? Respondi que sim.
Houve a instalação em fim de semana e na segunda me ligou felicitando pelo sucesso da instalação, no prazo e tudo operando na segunda pela manhã. Estivera no prédio, achou tudo meio louco. Mas era fato, funcionava. Considerou um mistério.
A IBM lançou o Sistema /360. Teve muito de inovação. Era uma família de equipamentos de diversos portes que tinham compatibilidade na programação. E no sistema operacional!
Crescer na família /360, preservando os programas. Tremenda revolução e inovação. Tinha um cabo de interface padrão, coisa como a entrada USB de hoje. Todo equipamento de entrada e saída se ligava por um mesmo tipo de cabo e encaixe.
Os sistemas vinham com um sistema operacional, o DOS ou o MVS. Aquele para as máquinas menores, menos potentes e com menor memória. O MVS para as grandonas.
O JCL era o diabo da época: Job Control Language. Alguns ficaram famosos pelo que entendiam do JCL, outros naufragaram. Analistas que se firmaram ou se danaram. Analistas de suporte no sistema operacional, analistas de aplicação. Novas especializações.
E começa o império dos discos e a decadência das fitas magnéticas. O seqüencial cedia lugar ao acesso aleatório! Estranho não, memória em disco ser a base de tudo. Como é hoje.
Aparecem os primeiros chips, com poucos componentes, mas começam. Ainda muitas placas onde eram fixados os chips. Nós chamávamos as placas de cartões.
Havia então, em cada computador, dois tipos de memória: a de uso dos programadores, ainda em ferrite e indo até 256K! O IBM /360 modelo 40 do CSD – Centro de Serviços de Dados – o Bureau era o quarentão, com 128k e rodava até 3 programas em partições diferentes. Oh, que espanto.
E havia as memórias read only, só de leitura, que era o computador em si. O CMGF, iniciais de excelente técnico da DT, comentou comigo que as memórias read only eram diferentes para cada modelo. Eram elas que tinham as instruções do computador.
A do /360 modelo 40 eram em fitas de plástico com posições marcadas: posição furada era bit 1, não furada bit 0! Lembram-se daqueles pianos antigos que tinham programação em fitas furadas e que tocavam sozinhos? Pianola? Pois eram assim os computadores. (Obviamente, há certa gozação nesta forma de explicar!) Era memória de capacitância, bem mais em conta.
Nestas memórias ROM, estão também muitos circuitos de teste. Quando o equipamento era ligado era testado por seu próprio circuito, coisa de 128 vezes. Mania de binário.
Presenciara várias mudanças. Máquinas diversas com programação própria para uma família que preservava os custos de programação. O advento dos discos e os sistemas operacionais. Eletro mecânico e válvulas passando para transistores discretos e chips. Vários tipos de memória: cartões perfurados, núcleos de ferrite, capacitância, transistores, fitas magnéticas e discos magnéticos removíveis. Vira aparecer o analista de sistema do sistema operacional, o analista de sistema de aplicações. O especialista da DT em instalação e em seguida o especialista da DT em sistema operacional. Uma interface padrão para ligar os vários periféricos.
Evolução e revolução rápidas.
E software começa o seu reinado. Hardware é importante, mas software é o bicho. Mais tarde Bill Gates entendeu a coisa e lá se foi para enricar e dominar.
Custo de programação passa a ser peça importante e passa a ser fundamental na capacidade competitiva das empresas.
Como disse um executivo: No futuro doarei o hardware para vender o software. Exagerado sim, mas mostra a tendência.

Curiosidades
Estou falando do ITA de 1955 a 1959. O Brasil e o ITA são muito diversos.
Automóveis são caros e ainda raros.O Leon tinha um Javelin. O Colibri um Sunbeam Talbot. O Miltão trazia, de vez em quando, uma Mercedes à Diesel de seu pai. Baterias enormes de XXXXX para aquecer o cabeçote (?) e só então injetar o diesel. Partida estranha!
O Adolfo, 58, tinha um Chevrolet BelAir, luxo só. O Verdi, 58, uma moto BMW. Muitos de automóveis de pedalinho, eu inclusive, ciclistas.
O Jean Paul comprovava a robustez da Vespa. Resistiu com galhardia à robustez do dono.
Apelidos, uns pegam, outros não. Havia o Fio de Linha, Filamento, Mutum, Xexéu, Costeleta, Gafanhoto, Goioba (cocô da goiaba), o Corú (diminutivo de Corutixa = coruja + lagartixa), o Miné (curto para Minestrone), o Sucata, o Fuligem, Chiquita Bacana, Sururu, Gafanhoto, Macarra, Aracati, Patativa (sotaque cantado de sulista) e por aí vai.
Vejam no anexo um disco rígido de 5MB de 1956.... Em Setembro de 1956 a IBM lançou o 305 RAMAC, o primeiro Computador com Hard Disk (HDD). O HDD pesava perto de 1 tonelada e tinha a capacidade de 5mb... É isso mesmo: cinco mega de memória! Apreciem o seu pen drive de 2 G. (Contribuição do BARM, colega do Marketing da IBM. Gozador, pergunta se sou eu quem está ajudando na descarga! Não sou eu.)

Baboseiras: cenas reais da vida
Cena 1
Saio de casa, coisa de 8h: 30 para andar na praia.Estou sem óculos.Ao longe vejo vulto esbelto, todo preto, caminhando no calçadão.
Primeiro imagino um poste caminhando. Depois um urubu muito alto e esbelto.
Continuo caminhando, aproximo-me do calçadão e agora posso ver a fisionomia do poste. Fisionomia muito bela: é a Luiza Brunet!Até hoje a mulher mais bonita que conheci. Ainda hoje muito bela sem o deslumbramento de anos atrás.Aprecio-a passar em seu passo rápido e ritmado, elegantíssima, de roupa toda preta, boné idem e óculos escuros.
Algo errado na personalidade de quem confunde a Brunet com poste e urubu!

Cena 2

Saio de casa para fazer a ginástica de alongamento. Eu e as meninas. Sou o único homem e a média de nossas idades deve ser de 70 anos.
Fazemos alongamento em pé na primeira meia hora e deitados, na canga, na outra.
De repente, surgem quatro pássaros, tamanho de galo garnisé, pernaltos e penas de cor cinza e branco. Bicos grandes e finos.Ficam alinhados, paralelos ao mar, apreciando-o.
De repente, grasnam, gritam, piam. Fazem um tremendo alarido. Muito maior que o tamanho preveria.Silêncio e de repente a zorra sonora de novo.
Somem.
Deitamo-nos. Vejo duas aves no parapeito de cobertura da Delfim Moreira.Aproximam-se, afastam-se. A asa levanta e encobre parte do outro. Roça o bico no outro e vice versa. Enlevados, namorando. Um idílio amoroso, ao ar livre, na brisa da praia, sem medo da altura ou de cair.
Quando volto a olhar, já se foram.
Urubus também amam.

Cena 3
Saio de casa, dia 12 de março, coisa de 8h: 30 para andar na praia. Estou sem óculos.
Caminho pelo calçadão. Um vulto se aproxima, emparelha comigo e passa. É a Luiza Brunet! De novo. Com roupa de cor escura, não preta.
O porte é deslumbrante. O passo é ritmado e rápido. Não tenho pico para acompanhá-la.
Aprecio o andar, o encantador balanço das ondas de seu quadril sustentado por duas pernas lindíssimas. E vai-se, vai-se.Quase acredito que Deus existe e quase mando às favas meu ateísmo.
Bom começar o dia assim.

7 comentários:

vececo disse...

Sou testemunha desta ginástica diária (ou quase), ali no Jardim de Alá. Se é assim que os septuagenários vivem, temos esperança. Fazendo ginástica e cercado de muitas mulheres. Muito bom. Fernando, parabéns pela idéia do blog.
Gentil (ex-IBM)

Priscilla disse...

Adorei essa idéia do blog... e gosto especialmente da forma como você escreve... Um misto de irreverência, franqueza e graça. Tal como na criação do doce apelido "Impactante Criatura".
Beijos,
Priscilla

Editora disse...

.... e a média de nossas idades deve ser de 70 anos.
Idade média 70 anos?! Sacanagem!

fernando coelho vivencias disse...

A Néria tem razão. A isdade média não é 70. Setenta e 1 tenho eu. Que tal 60 como média?

fernando coelho vivencias disse...

Gentil
Bom lê-lo. Comente e critique.
Abs
Fernando

fernando coelho vivencias disse...

Priscilla
Você merece.
Bjjjo
Fernando

Editora disse...

Melhorou um pouco. Depois vou fazer as contas e digo qual é a idade média correta.
De qualquer forma, a esta altura do campeonato, 10 anos a menos é um baita lucro.